Arquivo mensal: março 2012

Ciúme Patológico

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O ciúme patológico é provocado por delírios de traição por parte do parceiro. Nenhum tipo de prova em contrário convence o enciumado de que o parceiro não o está traindo. Cada suspeita desconfirmada só tranqüiliza por pouco tempo. Logo em seguida aparece outra suspeita e novas crises de ciúmes.

Em questões de ciúme, a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza freqüentemente se torna vaga e imprecisa. No ciúme as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou francamente delirantes. Depois das idéias de ciúme, a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas dúvidas. O (a) ciumento (a) verifica se a pessoa está onde e com quem disse que estaria, viola correspondências, ouve telefonemas, examina bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas, segue o companheiro (a), interroga o (a) companheira sobre seu passado na tentativa de obter contradições, contrata detetives particulares, etc. Toda essa tentativa para aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida. O ciumento nunca se dá por vencido.

O conceito de Ciúme Mórbido ou Patológico compreende vários sentimentos perturbadores, desproporcionais e absurdos, os quais determinam comportamentos inaceitáveis ou bizarros. Esses sentimentos envolveriam um medo desproporcional de perder o parceiro(a) para um(a) rival, desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no relacionamento interpessoal.

Dependendo do grau que atinge pode tornar-se obsessão. Em Otelo (de Shakespeare) temos um exemplo clássico da atitude inadequada diante desse sentimento, onde o ciúme supera a razão, e suas conseqüências trágicas. Otelo é convencido por um amigo, de que Desdêmona, sua esposa, o estaria traindo. Cego de ciúmes mata a esposa. Depois de matá-la, acaba descobrindo seu engano e então, culpado, suicida. É difícil se considerar ciúmes, um sentimento bom ou normal.

A vida de quem tem este tipo de ciúme e a de seu parceiro se transforma em um inferno. A insegurança de que o parceiro está traindo é constante. Todas as atividades da vida diária podem ser prejudicadas pelas perturbações decorrentes do ciúme. O enciumado não consegue se concentrar em mais nada. Tudo fica subordinado aos seus sentimentos de ciúme. O sono fica prejudicado, o parceiro é submetido à vigilância continua – a sua privacidade é invadida de todas a formas – outras atividades importantes podem ser interrompidas para que a vigilância do parceiro possa ser exercida. Este tipo de distúrbio requer tratamento especializado.

A grande maioria das pessoas não gosta de sentir ciúme. As reações de pessoas que são objeto de ciúme moderado vão desde sentir-se amado e ficar lisonjeado até não suportar ser objeto deste sentimento. As pessoas que não gostam de ser objeto de ciúme sentem-se acuadas, tolhidas e desrespeitadas quando isto acontece.

A forma de agir daqueles que sentem ciúme também varia muito. Por exemplo, algumas pessoas escondem este sentimento, enquanto outras se tornam agressivas e apresentam perseguições, ameaças e/ou represálias.

O ciúme exagerado pode ser causado por pelo menos um dos seguintes motivos:

(1) Sentir afeto do tipo compulsivo (são pessoas possessivas e inseguras) possuir um apego ansioso-ambivalente (típico dos que receberam cuidados inadequados na infância), carência afetiva, rejeição ou superproteção, ausência de um dos genitores, violência, adotivos, etc.

(2) Ter sido traído em relacionamentos anteriores: “Gato escaldado tem medo de água fria”. pessoas mal resolvidas, neuróticas, etc.

(3) Crenças disfuncionais do tipo “homem nenhum presta” ou “não se pode confiar nos homens”, “as mulheres são fracas ou perigosas”; durante a infância e adolescência presenciar conflitos e brigas freqüentes entre os pais, com ou sem acusação de traição.

O ciúme é um dos elementos mais complicadores no relacionamento afetivo e tem como causa uma insegurança externa ou interna. Ou a própria pessoa é insegura consigo mesma ou o (a) parceiro (a), de alguma forma, dá consciente ou inconscientemente motivos para insegurança.

Se o seu ciúme está prejudicando o seu relacionamento, verifique se ele é legítimo. Caso não o seja conseguindo se controlar seu ciúme procure ajuda profissional. O ciúme mesmo quando moderado deve ser tratado para não se tornar patológico.

Profa Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

 

Culpa ou neurose?

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A noção de culpabilidade é extremamente complexa porque envolve diversos aspectos, entre eles: o filosófico, teológico e o psicológico. A angústia e a culpa são fatores dominantes na vida dos seres humanos.

No enfoque psicanalítico, podemos dizer que existe uma dicotomia entre o que o indivíduo gostaria de ser – Eu ideal – e o que realmente ele é – Eu real – acarretando, desta forma, o sentimento de culpa pelo fato de ser o que não se é – culpa existencial.

No aspecto religioso, esse sentimento de culpa parece originar-se do não cumprimento das regras advindas das leis morais “divinas”. A idealização do ser humano, como ser correto, perfeito e virtuoso, é desmistificada. O homem é tomado como um pecador, ou seja, aquele que cometeu um ato contrário à verdade, ferindo a si e/ou ao próximo, acarretando-lhe a culpa e a necessidade de se redimir para livrar-se desse mal.

Ainda no enfoque psicanalítico, o sentimento de culpa expressa um conflito existente entre o Id e o Superego, tendo como mediador o Ego, que deve serviço a três grandes senhores: o mundo externo, a libido do Id e a severidade do Superego. O Id deseja uma determinada coisa e o Superego (valores dos pais e da cultura incorporados durante a infância) opõe-se ao cumprimento de tais desejos. Esse conflito estrutural a que chamamos de culpa é totalmente inconsciente; conseqüentemente dele, surge como sintomatologia psicopatológica à necessidade de punição ou de castigo.

Existem em algumas pessoas sentimentos de culpa que não correspondem à angústia e à consciência do pecado, isto é, não há uma culpa objetiva. Esses sentimentos são objeto de estudo da psicoterapia.

O sentimento patológico de culpa difere do sentimento do pecado.

Para Freud, o sentimento de culpa tem origem na infração às leis inconscientes do Superego, portanto, a sua raiz está no próprio inconsciente e no doente, que desconhece a causa de sua angústia, projetando-a sobre faltas reais ou imaginárias.

O remorso pelo pecado real é bem definido, límpido, destacando-se com nitidez para a consciência. Assim, diante dessas colocações, nota-se que se distingue sentimento de culpa e pecado por infrações inconscientes e conscientes, respectivamente.

Desta forma, a religião é um recurso para aperfeiçoamento do homem e da salvação de sua alma.

O neurótico corre o grave risco de criar falsa espiritualidade, falsa moralidade, que o impedirá de desfrutar de uma vida boa, voltada para a busca do progresso com vista à perfeição. Ele é guiado por motivações inconscientes de caráter egocêntrico, isto é, mais do que ao serviço do próximo e dos valores, funciona ao serviço do eu.

O neurótico confunde assim o ideal perfeito com a impecabilidade, ama apenas o eu idealizado e ilude-se julgando amar o próprio ideal, sem encontrar paz e equilíbrio. Tem uma religião exclusivamente de temor angustioso de Deus e por isso é duro, rígido para com os outros, a quem procura se impor. Mostra sentimentos de culpabilidade independentes do mal realmente cometido e, assim, angustia-se por faltas sem importância, abandona-se facilmente à tristeza e aos sentimentos de insuficiência.

É fato que todas as psicoterapias reconhecem a estreita relação entre as neuroses e a vida moral do sujeito.

Assim, do ponto de vista da psicanálise, quanto ao controle instintual, da moralidade, pode-se dizer que o Id é totalmente amoral; o Ego se esforça por ser moral e o Superego é super moral e pode tornar-se tão cruel quanto somente o Id pode ser.

Daí, ser importante, o reconhecimento da própria culpa, como fruto de uma autocrítica e reconhecimento da falta. Pois neste sentido, o homem toma consciência da ruptura existente entre o que desejaria ser – Eu-Ideal – e o que realmente é – Eu-Real. O remorso surge como uma primeira tentativa para aliviar essa dor, podendo levar o homem à harmonia interior ou ao desespero. É importante distinguir entre o remorso advindo do pecado e a angústia advinda do sentimento de culpa, pois, o esclarecimento do homem quanto as suas transgressões internas e/ou externas pode propiciar maior compreensão de si, de seu funcionamento psíquico e a busca de novos caminhos para o aperfeiçoamento de suas virtudes.

Profa.Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

“Síndrome da Pressa”

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Sentir-se oprimido pela falta de tempo é um sentimento muito comum nos dias de hoje. Poucas pessoas se dão conta de estarem sofrendo da “doença do tempo”, ou seja, de estarem estressadas, sobrecarregadas, ansiosas, com muita pressa. A “ansiedade pela falta de tempo” produz sensação de perda, insegurança, medo e conseqüente tensão e dificuldade para relaxar. Este mal-estar é chamado de “Síndrome da Pressa”, e seus sintomas são: ansiedade, impaciência, intolerância, irritabilidade, descontrole emocional. É comum observar, por exemplo, alguém perder o controle por ter que esperar alguns minutos na fila do banco, antecipar-se no sinal de transito, brigar no engarrafamento, sentir-se impaciente enquanto espera para ser atendido em alguma repartição ou por não conseguir concluir um projeto ou outra atividade qualquer. Essas pessoas vivem estressadas, mesmo porque se sobrecarregam de responsabilidades, estão sempre com suas agendas lotadas de compromissos. São pessoas que, pelas condições e estilo de vida, acabam sofrendo alterações hormonais com sérias conseqüências de natureza físicas e emocionais.

O homem moderno vive de maneira acelerada, à revelia de seu ritmo biológico ou relógio interno. A mania de correr contra o relógio, mesmo quando não há compromissos a cumprir, já pode ser considerada uma alteração de comportamento.
Estudada desde os anos 80 e descrita pela primeira vez nos Estados Unidos, a “Síndrome da Pressa” é desencadeada pela crença de que se pode realizar tudo, agindo de maneira acelerada. Geralmente não se trata de um distúrbio emocional, mas é conseqüência natural das pressões da vida moderna, do trabalho, da cobrança e exigência pessoal. Trata-se de um comportamento que pode eventualmente desencadear transtornos físicos como doenças crônicas geradas pelo estresse, fibromialgia, doenças cardíacas, infarto, arritmias, diabetes, úlceras, e transtornos emocionais como: compulsões, hiperatividade, ansiedade generalizada, hipomania, etc. Em alguns casos, a manifestação do problema pode ter causas internas mais profundas, como o perfeccionismo, a insegurança, a baixa auto-estima, etc.
As pessoas estão cada vez mais aceleradas e o problema já afeta vários setores da vida do homem moderno, com repercussões conjugais, familiares, sociais e profissionais.
Quem sofre desde problema se ocupa de várias atividades ao mesmo tempo, estão sempre ocupadas, sem tempo para o lazer, aflitas, sem intervalo para descanso, não conseguindo parar, mesmo depois do expediente, levando serviço para casa, sentindo-se cobradas por si próprias o tempo todo, podendo ficar, intolerantes e agressivas com as pessoas à sua volta, quando estas não conseguem adotar o mesmo ritmo.
Vivemos em uma sociedade pautada pelo consumo, somos valorizados pelo que temos. Somos estimulados o tempo todo a trabalhar exageradamente para podermos consumir mais e mais. A “Síndrome da Pressa” é uma espécie de normose, ou seja, uma conivência com esta ideologia, na medida em que leva seu portador a aceitar cobranças (internas e externas), sem considerar os prejuízos de tal comportamento para sua qualidade de vida.
A sensação de que o tempo passa muito depressa está relacionada aos avanços tecnológicos, como fax, e-mail, internet, comunicação por satélite, celular, meios de comunicação que faz com que a informação chegue mais rápida. Muitos têm a percepção de estarem sendo ultrapassados; já não é mais o medo de que os grandes dominem os pequenos, mas, de que os mais rápidos, os mais bem informados ultrapassam os mais lentos, os menos informados. O problema se agravou com a informatização, as pessoas não têm mais tempo para o diálogo, são impacientes a ouvir detalhes, querem a resposta com a mesma rapidez que a obtida pelo computador’’.
É preciso desacelerar. A pressa tem conseqüências indesejáveis para o organismo humano. Não somos máquinas. É necessário diminuir o ritmo, equilibrar a correria do dia-a-dia, reaprender a administrar o tempo, repensar crenças e valores.
Profa. Dra. Edna Paciência Vietta
Psicóloga Clínica

O homem e sua natureza religiosa

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O homem e sua natureza religiosa

 Todo homem é um ser religioso que tem dentro de si uma força que o impele para Deus”. O renomado psiquiatra e psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), se referiu a esse desejo profundo de buscar e adorar uma força e um poder superior quando escreveu em seu livro ‘The Undiscovered Self’ (O Eu e o Inconsciente), que “essa manifestação pode ser observada em toda a história da humanidade”.

Em outras palavras, o ser humano tem um desejo supremo pelas coisas espirituais. Isso significa que, crer em Deus é próprio do homem.

O que buscam as pessoas quando se entregam a uma religião? Pesquisas religiosas provam que a busca realizada pelas pessoas, têm como objetivo ou intenção encontrar paz, saúde e salvação. Assim, voltando para o pensamento de Jung  “O homem é um ser religioso que tem dentro de si uma força que o impele para Deus”.  Essa é uma evidência de que a psicologia sempre esteve preocupada em buscar a compreensão do valor das crenças para a saúde mental das pessoas.

As pessoas querem viver a dignidade humana em sua profunda espiritualidade. O sagrado tem como fundamento, os mais altos valores da vida humana. O anseio é encontrar a paz de espírito e a maior riqueza e um dos caminhos para alcançar a felicidade.

Aléxis Carrel (1873-1944) O renomado cientista francês, prêmio Nobel de medicina em 1912, declarou magistralmente: “só a religião propõe solução completa do problema humano”. É a religião não a crendice, fanatismo ou superstição. A crendice deturpa o conceito de religião e pode levar pessoas aos desequilíbrios emocionais e a doenças.

Há certo consenso entre cientistas sociais, filósofos e psicólogos sociais de que a religião é um importante fator de significação e ordenação da vida, de seus reveses e sofrimentos. Ela é condição fundamental nos momentos de maior impacto para os indivíduos, como perda de pessoas próximas, doença grave, incapacitação e morte. Por ser um elemento constitutivo da subjetividade e fonte de significado do sofrimento, tem sido considerado objeto indispensável na interlocução com a saúde e os transtornos mentais.

Para os médicos, psicólogos e demais pesquisadores no campo da saúde e dos transtornos emocionais e mentais, a religião, como fenômeno humano recorrente, constitutivo da subjetividade, não poderia nem deveria ser negligenciada nem passar despercebida. No entanto, infelizmente esta condição ainda passa como algo de menor importância. Há ainda uma negação mútua da interface da relação entre religião e ciência, entre a crença e a cura dos males do corpo e da mente.

Felizmente, algumas posições mais recentes têm contraposto tal dicotomização à perspectiva de abordar a crença e a cura de forma articulada. Crer, ter fé, é algo fundamental para as pessoas, não apenas por seu aspecto intelectual ou interno ao campo subjetivo, mas, sobretudo, porque crer implica uma dimensão plena dirigida ao mundo externo; ter fé é sempre invocar concretamente o poder do sobrenatural ou do mundo espiritual para os eventos e as experiências da vida diária.

Porque se valoriza tanto o sofrimento físico em detrimento do sofrimento emocional ou mental? Será pelo motivo de sua subjetividade e falta de concretude (no sentido de que a doença mental não produz, enquanto tal, feridas visíveis, algo concreto, material) É possível quantificar qual dor ou sofrimento é maior?

Profa. Dra Edna Paciência Vietta.

Psicóloga Clínica

Na culpa, somos nosso maior algoz.

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“A principal e mais grave punição para quem cometeu uma culpa está em sentir-se culpado”. 

                                                                                                                                                    (Sêneca)

 Nunca será demais falarmos sobre este sentimento. Ele é um dos maiores problemas do ser humano quando em excesso ou em deficiência e, causa de muitos sintomas e patologias. No primeiro caso ela nunca vem só, e nos leva a grandes sofrimentos, ao arrependimento e a autopunição, no segundo, torna-se um perigo, pois faz os outros sofrerem, é o caso do sociopata ou psicopata, pela ausência de remorso, por perversão, frieza e indiferença. Embora haja diferenças entre essas duas patologias os traços comuns são: o desprezo pelas obrigações sociais, a falta de consideração para com os sentimentos dos outros, egocentrismo exagerado, emoções superficiais, teatrais e falsas, pouco ou nenhum controle da impulsividade, baixa tolerância a frustração, irresponsabilidade, ausência de sentimentos de remorso e de culpa. Essas pessoas mentem, roubam, abusam, trapaceiam, manipulam dolosamente seus familiares e parentes e colocam em risco a vida de outras pessoas.

É certo, que a pessoa que experimenta culpa freqüente, também, pode estar fora da realidade, podendo revelar uma consciência hipersensível, culminando no desenvolvimento de uma condição neurótica, tendo como resultado um sentimento de culpa por tudo o que faz, diz, ou pensa.

A questão é, até quanto o sentimento de culpa pode ser saudável e quando pode tornar-se prejudicial à saúde física e mental do ser humano.

A culpa pode ser provocada por uma conduta negligente ou imprudente, com ou sem propósito de lesar, mas com algum dano real ou imaginário. Pode ser provocada por atitudes conscientes ou inconscientes. Pode, também, ser induzida por um ato intencional, nesse caso, é responsável por grande sofrimento psicológico e/ou físico (produzindo sintomas ou doenças psicossomáticas), um tipo de tortura que a própria pessoa se impõe, por ter cometido erro, falha, injustiça, maldade, etc.

São inúmeros os sentimentos e situações que podem provocar esse mal estar, entre eles podemos citar: raiva, ódio, ciúmes, inveja, egoísmo, ingratidão, negligência, traição, criticar os outros, magoar, colocar a culpa nos outros, julgar mal as pessoas, ser intolerante com alguém, chantagear, humilhar, competir de forma desleal, não assumir responsabilidades, desconfiar sem motivos, desobedecer ou transgredir: leis, normas, regulamentos, princípios morais, éticos, religiosos, dar falso testemunho, agredir psicológica ou fisicamente, ou ainda comportamentos como: comer demais, gastar sem necessidade, roubar, mentir, maltratar animais, matar, etc.

Por trás de nossa tristeza, frustração, insatisfação, tédio, angústia, está à culpa como verme que corrói e mina a alegria de viver, destruindo a auto-estima. Quanto maior a expectativa ao nosso respeito; quanto maior nossa exigência e perfeccionismo em relação às nossas condutas; quanto mais incoerência houver entre nossos sentimentos e ações, maior nosso sentimento de culpa.

Devemos assumir a responsabilidade pelos nossos atos e procurarmos corrigir as nossas falhas. Somos seres humanos imperfeitos. A culpa não assumida é uma atitude inconseqüente, coloca o culpado no lugar de vítima, isentando-o transitoriamente da responsabilidade do seu ato, mas o persegue eternamente.

A culpa é a maneira de nos vingarmos ou punirmos a nós mesmos, às vezes, de forma perversa, provocando acidentes, envolvendo-nos em conflitos, impondo-nos sacrifícios, levando-nos à perda de liberdade. A culpa pode provocar sintomas e doenças, por exemplo, Depressão, Anorexia Nervosa (distúrbio da alimentação), Bulimia (auto-indução de vômitos como forma de emagrecimento), problemas de pele, depressão, insônia, solidão, alcoolismo, droga-adição, alguns tipos de Câncer e, até o suicídio.

Com a culpa vem o remorso. Sentir remorso faz parte de nosso aprendizado. O remorso é um aviso que algo está para ser corrigido.

A conscientização da culpa deve levar a pessoa a uma reavaliação de conduta e não a uma vida amargurada e doentia. Viver alimentando o diálogo contínuo de autopunição, não é saudável, é o recurso para concretizar o jogo preferido dos neuróticos.

A culpa excessiva é também, uma defesa para não se assumir a responsabilidade pela própria vida, é a fuga pelo medo de mudança, crescimento e aperfeiçoamento pessoal.

Somos seres imperfeitos, limitados e susceptíveis de cometermos falhas, mas, também, dotados do livre-arbítrio para sermos melhores.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga

Fobia Social: é preciso vencê-la.

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No mundo, o contingente de tímidos soma a 48%, com tendência a crescimento. Todos nós podemos ser tímidos, em algum grau. E isto pode não ser problema enquanto não interferir em nosso crescimento pessoal, profissional e social.

É natural sentir-se incomodado, retraído, envergonhado ou pouco à vontade quando se é observado. Esse grau de timidez varia de pessoa para pessoa de acordo com a situação.

Embora seja normal ficarmos pouco à vontade em certas ocasiões sociais, a tendência é irmos gradativamente familiarizando com a situação. Algumas pessoas, no entanto, não desenvolvem ou perdem esta habilidade social e passa evitar, a todo custo, certas situações comuns às demais pessoas.

A Timidez passa ser patológica a partir do momento em que a pessoa sofre algum prejuízo pessoal como, deixar de manifestar opinião em grupo, passar a isolar-se socialmente, abandonar a faculdade por medo de se expor publicamente, perder oportunidades de negócios, faltar a compromissos, fracassar na profissão, no emprego ou nas relações sociais e afetivas, etc.

A Fobia Social é um Transtorno de Ansiedade de evolução crônica, além de ser reconhecida como passível de acarretar prejuízos graves em diferentes áreas da vida do indivíduo, como trabalho, escola, atividades sociais, etc.

A pessoa Fóbica socialmente reconhece que seu medo é irracional, no entanto, sempre que entra em contato com a situação temida, não consegue evitar, sente-se incomodada e ansiosa. O que provoca essa reação é a o alto nível de ansiedade pela intensidade de pensamentos negativos e avaliação disfuncional que a pessoa faz de si.

As situações sociais nas quais essas pessoas são afetadas são as seguintes: encontrar-se com pessoas desconhecidas pelas quais se sentem atraídas ou inferiores, no meio de estranhos ou com pessoas pouco chegadas, andar a sós na rua, falar em público, viajar de ônibus, metrô ou outro meio de transporte público; comer ou beber em restaurantes ou outro lugar público; participar de festas; olhar as pessoas nos olhos; iniciar conversa; ser apresentada a outras pessoas; fazer chamadas telefônicas; estar em espaço fechado ou onde há muita gente; dar ou aceitar cumprimentos; medo de atender pessoas no portão/porta (ou portaria); medo de ir ao barbeiro, cabeleireiro, hospital… Com o tempo a pessoa Fóbica Social pode vir a se isolar de tudo, podendo perder toda habilidade social.

A Fobia Social pode ser generalizada se os medos são experimentados na quase totalidade das situações sociais ou específica, se a ansiedade é experimentada apenas em determinadas situações sociais: medo de andar de avião, medo de andar de elevador, medo de altura, de lugares fechados, etc.

Os fóbicos sociais apresentam hipersensibilidade à criticas, avaliação negativa a respeito de si mesmo, sentimentos de inferioridade, baixa auto-estima, dificuldade em dizer não.

As reações mais observadas em situação desencadeadoras de Fobia Social são: taquicardia, tremores, sudorese, boca seca, sensação de bolo na garganta, dificuldade para falar, ondas de calor, rubor, dor de barriga, diarréia, vontade de fazer xixi, tonteiras e, sobretudo, mãos geladas e em casos mais graves, lapsos de memória e oscilações no tom da voz, enquanto a pessoa desempenha alguma tarefa comum, como comer, escrever, falar, sobretudo, em casos mais graves, hiperventilação (falta de ar) e Crises de Pânico.

Diante da exposição, a pessoa com Fobia Social busca fugir ou evitar a situação temida como puder. Há também a preocupação por antecipação de situações onde estará sob a apreciação alheia, despertando a ansiedade antecipatória, resultando em sofrimento dias antes do evento, podendo interferir no sono, na concentração, no humor e no apetite.

As causas mais comuns são: pais tímidos ou Fóbicos Sociais; falta do treinamento ou do desenvolvimento das habilidades sociais; Bullying; vivência de experiências marcantes de rejeição e sofrimento no relacionamento interpessoal; situação constrangedora ou humilhação que a pessoa tenha passado.

A Fobia Social não melhora sozinha e alguns pacientes passam a abusar das bebidas, para diminuir as sensações de desconforto. Contudo, o consumo excessivo de álcool pode acelerar os sintomas ansiosos, estabelecendo um círculo vicioso de ansiedade e alcoolismo.

O tratamento da Fobia Social é realizado basicamente de duas maneiras: com medicamentos e psicoterapia.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

Tricotilomania: que mania é esta?

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A Tricotilomania foi descrita pela primeira vez em 1889, por Hallopeau, sendo atualmente classificada entre os transtornos de hábito e de controle de impulsos. Caracteriza-se por comportamento recorrente de arrancar os próprios cabelos, aumento da tensão imediatamente antes de arrancar (quando a pessoa tenta resistir ao comportamento), e sentimento de prazer, satisfação ou alívio após arrancá-los. Consiste num descontrole recorrente, resultando em perda capilar perceptível.

Os locais de onde os cabelos são arrancados podem compreender qualquer região do corpo (inclusive as regiões axilar, púbica e perirretal), sendo os pontos mais comuns o couro cabeludo, sobrancelhas e cílios.

O ato de arrancar cabelos pode ocorrer em breves episódios ao longo do dia, ou em períodos menos freqüentes, porém mais prolongados, que podem se estender por horas. Algumas pessoas apresentam outros comportamentos associados como: brincar ou esfregar com o polegar e o indicador os cabelos que arrancam, morder a raiz do cabelo, e outras manias como, cutucar a pele ou roer unhas (onicofagia). Circunstâncias estressantes freqüentemente aumentam esse comportamento, mas ele também pode ocorrer em estados de relaxamento e distração, (por ex., assistindo televisão ou lendo um livro.

            Como qualquer outro comportamento desviante, a Tricotilomania se apresenta em diversos graus, revelando-se desde pequenas falhas nos cabelos ou áreas de alopecia até a calvície total. Na maioria das vezes, este comportamento começa na infância ou adolescência. As justificativas da pessoa portadora de tal distúrbio são: sensação irresistível de coceira, impossibilidade de resistir ao impulso, ansiedade antes de começar o ato e a sensação de alívio da ansiedade, após arrancar fios de cabelo.

Pessoas com Tricotilomania sentem-se envergonhadas pelo seu comportamento e sua aparência, por isso, tendem esconder o quanto possível o problema de sua família e amigos, ou negam o comportamento, daí ser de difícil diagnóstico. Vergonha e desconforto podem ter repercussões graves na auto-estima, na carreira e na vida social do portador, embora este procure disfarçar recorrendo a penteados elaborados, apliques,  perucas, bonés e chapéus.

            O aspecto mais complicado deste distúrbio é a ingestão de partes do cabelo, como as raízes, ou do cabelo inteiro, podendo levar ao desenvolvimento de “bolos” de cabelos no estômago ou intestinos, o que é raro, mas perigoso. Á Tricotilomania é mais comum do que se pensa, é um transtorno como outro qualquer, só que um pouco mais esquisita e de tratamento demorado. A causa é desconhecida. Familiares destes pacientes apresentam maior incidência de distúrbios de ansiedade, Tricotilomania, Distúrbio Obsessivo-compulsivo, Síndrome de Tourette, Síndrome do Pânico e Depressão. Provavelmente existe uma combinação de fatores genéticos que provocam a disfunção de Neurotransmissores, associada a problemas emocionais que desencadeiam os sintomas.

Fatores psicológicos e emocionais a serem levados em conta são: emoções desagradáveis, solidão, ansiedade, tensão, raiva, tristeza, rejeição, culpa, carência afetiva. Fatores ambientais como, atividades sedentárias e contemplativas, durante as quais as mãos estão livres e/ou a mente desocupada são agravantes.

Nestes casos, culpar a pessoa por arrancar cabelos é o mesmo que culpar um asmático por não conseguir respirar. Crítica, raiva e acusações não vão diminuir o problema e podem aumentar a vergonha, a depressão, a ansiedade e a baixa auto-estima que freqüentemente acompanham e intensificam a compulsão.

O tratamento mais indicado é a terapia cognitivo-comportamental associada à terapia medicamentosa, com resultados há longo prazo. O diagnóstico não é confirmado se o ato de arrancar os cabelos for explicado pela presença de transtorno mental (por ex., em resposta ao delírio ou alucinação) ou se por condição médica geral (por ex., inflamação da pele ou outras condições dermatológicas). O distúrbio pode causar prejuízos significativos no funcionamento afetivo, profissional, ocupacional e social do indivíduo. Os jovens são os mais atingidos por este transtorno. Por se tratar de patologia com sinais evidentes e repercussão na auto-estima, não deve ser negligenciada, já que é causa de grande desconforto e de perdas consideráveis.

 

 

                       Profa.Dra. Edna Paciência Vietta

                               Psicóloga Clínica

 

 

 

Resiliência e Religião

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Resiliência é o ato de retorno de mola; sua elasticidade, seu poder de recuperação. O trabalho necessário para deformar um corpo até seu limite elástico.

O Novo Dicionário Aurélio traz o seguinte significado: é a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida, quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica. Este termo, então, advém da Física, e passa o sentido de elasticidade, flexibilidade de um corpo quando pressionado, esticado, dobrado, porém esta idéia não expressa sua totalidade. No entanto, este termo tem sido também, utilizado pela Psicologia emprestado da Física.

Em psicologia, resiliar [résilier] é recuperar-se, ir pra a frente depois de uma doença, perda, trauma ou estresse. É vencer as provações e as crises da vida, isto é, resistir a elas primeiro e superá-las depois, para seguir vivendo o melhor possível.

O primeiro a usar o termo resiliência, em sentido figurado, foi o conhecido psicólogo John Bowlby, que o definiu como um recurso moral, qualidade de uma pessoa que não desanima, que não se deixa abater.

O paradigma da resiliência descreve como a fé, a espiritualidade, ou a pertença a um grupo, comunidade ou instituição religiosa influenciam na hora da superação das dificuldades e sofrimentos pessoais e sociais.

As atitudes resilientes podem ser promovidas, com o apoio de pessoas ou instituições (família, igreja, escola, centro de saúde, organizações ou associações sociais ou políticas etc.), que se preocupam em motivar a ativação das capacidades de superação das dificuldades. Pensa-se na ação preventiva e na promoção, ou seja, como

fomentá-la no ambiente familiar, social, de trabalho e de missão mediante a educação, das intervenções sociais, das políticas públicas, assim como dos projetos comunitários civis ou eclesiais.

As capacidades resilientes dos seres humanos e dos grupos, por mais promovidas e desenvolvidas que estejam, não são ilimitadas. Todo ser humano tem um limite pessoal para lidar com a adversidade.

Para promover e potencializar a resiliência de um grupo ou de uma pessoa é preciso investigar e descobrir os pilares que sustentam a resiliência, isto é, os recursos próprios que as pessoas dispõem, e os fatores de proteção do meio circundante, ou seja, as capacidades que há na família, no ambiente ou na instituição educativa, social, política ou religiosa. Esse processo de fortalecimento e capacitação é conhecido hoje como empoderamento (empowerment) e preocupa-se em “identificar os recursos, revelá-los a quem os possui – que freqüentemente não sabe que os possui – e ajudá-lo a aplicá-los.

Flach (1991) estabelece alguns traços característicos de personalidade e alguns atributos do indivíduo resiliente. Os principais são:· uma forte auto-estima, senso de humor,· independência de pensamento e ação, sem medo de depender dos outros ou relutância em fazê-lo, capacidade de trocas nas relações, um grupo estável de amigos (inclusive alguns confidentes). disciplina pessoal e senso de responsabilidade, reconhecimento e desenvolvimento de dons e talentos pessoais, auto-respeito,· criatividade, habilidade para recuperar a auto-estima quando esta estiver diminuída ou temporariamente perdida, capacidade para aprender, capacidade para tolerar a dor, grande tolerância ao sofrimento, abertura e receptividade para novas idéias, disposição para sonhar, uma vasta gama de interesses, insight a respeito dos próprios sentimentos e percepção dos sentimentos dos outros, e a capacidade para comunicar estas opiniões de maneira adequada, flexibilidade, concentração, um compromisso com a vida, e um contexto filosófico no qual as experiências pessoais possam ser interpretadas com significado e esperança, até mesmo nos momentos mais desalentadores da vida.

A literatura sobre resiliência ainda é pouco exaustiva ao falar de religiosidade, fé ou espiritualidade. Poucos são os autores abordam a temática. No entanto, Vanistendael, com marcada ênfase nesse aspecto, considera que o sentido da vida, como pilar de resiliência, pode estar vinculado a uma filosofia de vida, uma vida espiritual e fé religiosa.

Alguns estudiosos no assunto consideram que a espiritualidade com suporte congregacional permite suportar crises e superá-las com eficácia já que na confiança na presença divina é possível até “crescer com a adversidade”, sentindo que não tem somente a força dos homens, mas uma força superior. Para Neale Donald Walsch, autor norte-americano da série de livros “Conversando com Deus”,  a religião e a espiritualidade podem ser recursos terapêuticos poderosos para recuperação, cura e resiliência.

Profa. Dra Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

Pós- modernidade e Cosmovisão

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Em quase todos os círculos acadêmicos e em outras esferas, os novos fenômenos sociais, as mudanças tremendas e a grande expectativa deste novo século, traz a certeza, a de que uma nova era teve início – A Era Pós-Moderna. Para muitos estudiosos a Era Moderna ou Modernidade terminou dando lugar a outro paradigma a Pós-Modernidade.

Se olharmos à nossa volta, podemos perceber mudanças significativas em nosso mundo. Vivemos em um mundo Pós-Moderno e com ele o desafio de entender as mudanças ocorridas e suas influências no modo de pensar, sentir e agir do homem Pós- Moderno. Essas mudanças foram abrangentes com reflexos nos valores que permeiam a ética e a moral. Tal contexto parece indicar total reorganização da humanidade, provavelmente tão ou mais importante que a sofrida na transição da Idade Média para a Idade Moderna.

Vivemos uma época complexa e com características inéditas na história da humanidade. Na tentativa de apreensão e compreensão dessa realidade, teóricos de diversas áreas do conhecimento humano, como filósofos, sociólogos, antropólogos, teólogos, psicólogos, historiadores e outros, têm se dedicado ao estudo dessas transformações.

Após as duas Guerras Mundiais, a humanidade passou por um profundo processo de mudança de paradigma e transformações na cultura.

As promessas de um mundo melhor calcado na razão foram frustradas pela industrialização descontrolada, pelas sucessivas agressões à natureza e a consciência dos perigos do seu aproveitamento desmedido, pelo consumismo desenfreado, dentre outros. O homem passou a abandonar a razão em prol do afeto. Ao mesmo tempo, o pensamento perdeu seu fundamento de certeza. A verdade passou a ser tida como alcançável somente em um contexto parcial e localizado. No campo da ética, vence o individualismo. Valorizam-se mais o que se pode ganhar do que o que se pode fazer para melhorar a vida de todos. A dimensão espiritual também sofre o impacto desse rearranjo contemporâneo. Igrejas transformam-se em verdadeiras máquinas do sistema capitalista. Surgem as mais diversas expressões religiosas, que oferecem conforto, consolo e promessas de melhores dias a seus devotos, em um festival de marketing para todos os gostos, combinados a valores da modernidade.

Na realidade, a razão moderna não conseguiu eliminar a experiência religiosa da vida das pessoas. Ao contrário do que poderia se esperar, a pós-modernidade permitiu uma inusitada expansão e diversificação de expressões religiosas.

A Pós-Modernidade representa uma frustração com o discurso iluminista e suas grandes idéias, que, apesar dos grandes avanços científicos que proporcionaram, mostraram-se incapazes de pôr fim às mazelas da sociedade e de produzir um estado de permanente bem-estar, edificado pela razão humana. “O pós-modernismo está associado à decadência das grandes idéias, valores e instituições ocidentais – Deus, Ser, Razão, Sentido, Verdade, Totalidade, Ciência, Sujeito, Consciência, Produção, Estado, Revolução, Família”

Um estado de fluidez se apossou das certezas que nos foram legadas pelo período anterior da história, e toda a sua segurança cedeu lugar a um estado de coisas no qual não mais existem verdades definitivas. Já não ousamos imaginar a realidade construída sobre um único fundamento ou sobre verdades imutáveis.

Os pós-modernistas são convictos de que vivemos uma fase onde surgirão novos paradigmas e, conseqüentemente, nova cosmovisão,

Aquilo que cada pessoa é, o que defende, o que vive, é resultado da cosmovisão que permeia sua vida. Basicamente, é a forma como enxergamos o mundo. O nosso sistema pessoal de crenças, valores e sentimentos, o modo pelo qual vemos e interpretamos a realidade.

Na Idade Moderna, o homem era o centro de todas as coisas. Na pós é um mero consumidor. Na Moderna, o ser era mais importante que o ter. Na Moderna o ser é valorizado pelo que tem. Na Moderna o ser humano era mais erudito, na pós, o homem é pragmático. Na moderna os valores da família e da sociedade eram mais preservados, na pós, esses valores estão se perdendo. Na modernidade, a verdade é universal e absoluta, na pós a verdade é local e relativa. Na moderna há propagação da cultura judaico-cristã, na pós o multiculturalismo, etc. Em resumo a pós-modernidade não é um movimento organizado, mas uma visão que influência a academia, a religião, a arte, a cultura e a economia.

Lembrando que Cosmovisão é a forma pela qual interpretamos e percebemos a realidade ao nosso redor, seja de forma consciente ou inconsciente.

Você pode pensar que não esteja inserido nessa tal Pós-Modernidade, no entanto, estamos todos navegando no mesmo barco. Não sejamos passivos.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

Psoríase: pele e emoção

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A pele é altamente sensível às emoções, em virtude das ligações existentes entre ela e o sistema nervoso. Ambos possuem a mesma origem embriológica. Ambos derivam do ectoderma, o folheto externo do embrião, que, na sua evolução, dobra-se sobre si mesmo formando um tubo, chamado tubo neural. A parte que fica por fora vai formar a pele e a parte interna vai desenvolver o sistema nervoso. Portanto, desde o início, a pele está em ligação direta com o sistema nervoso, enviando-lhe constantemente informações sobre o meio externo.

Ao nascer, a pele é o maior órgão de percepção. Ela registra as mudanças do quente e aconchegante corpo materno, para o frio e áspero mundo externo. Assim, a pele se torna o meio de contato físico e de resposta de uma gama de emoções que a criança vivencia, seja de bem estar ou de angústia.

A pele é também, um órgão de comunicação e, portanto, uma das formas do indivíduo expressar insatisfação, mal-estar ou desconforto por meio da somatização. Ela é o espelho do funcionamento do organismo ao refletir e interpretar: sua cor, textura, umidade, secura, sensações de frio, calor e, no toque o prazer e o desprazer com repercussões no estado psicológico e fisiológico.

Os quadros psíquicos principais nas dermatoses são ansiedade, depressão e sintomas obsessivo-compulsivos, que podem ser discretos, não caracterizando doenças, mas influenciando a evolução da dermatose.

A conexão entre a pele, o sistema psíquico e as doenças psicossomáticas é abordada pela dermatologia integrativa. Grande tem sido a contribuição da psicologia para ampliar os conhecimentos sobre o estado psíquico dos doentes dermatológicos, sobretudo através da psicoterapia numa abordagem cognitivo-comportamental.

Já não há mais como negar a interação entre o corpo e a mente. O estado emocional é capaz de desencadear diversas manifestações orgânicas e, até mesmo, doenças.

Muitas vezes, diante de uma situação de forte estímulo emocional ou do estresse do dia a dia, mecanismos biológicos descarregam a tensão no corpo, que se manifesta em um órgão, chamado de “órgão de choque”. A pele é um desses “órgãos de choque” e, certamente, sofre em função dessas oscilações emocionais.

Quando o órgão atingido é a pele, algumas doenças podem ser desencadeadas ou agravadas, entre elas: psoríase, disidrose, vitiligo, dermatite seborréica, dermatite atópica, lupus e acne.

Dentre os vários fatores que provocam o aparecimento das dermatoses, o aspecto emocional é, talvez, o de maior importância e influencia tanto o surgimento como o agravamento da lesão. Um exemplo a ser destacado é o da Psoríase, uma das dermatoses crônicas mais pesquisadas classificada no grupo das psicodermatoses, cujo fator emocional foi identificado como agravante da doença.

Psoríase é uma doença crônica, não contagiosa, auto-imune que afeta a pele e articulações. Comumente provocam manchas vermelhas as chamadas placas de psoríase, áreas de inflamação e produção excessiva da pele.

A pele de pessoas saudáveis é renovada em cerca de quatro semanas, enquanto a pele dos pacientes com psoríase é renovada a cada semana. No caso da psoríase as células da epiderme chegam à superfície da pele, muito mais rápido, permanecendo presas à pele, formando manchas inchadas, vermelhas, escamosas. Para se ter uma idéia, uma célula da epiderme, em circunstâncias normais, vive 28 dias, tempo que envolve nascimento, multiplicação e morte. Dentro do quadro de psoríase, este ciclo de vida cai para 3 dias.

A psoríase é uma doença com componentes hereditários e de fundo emocional. Geralmente aparece no início da adolescência, mas pode aparecer também, devido a algum problema emocional, como a morte de um ente querido, divórcio, perdas financeiras, e outras situações de perda.

Muito provavelmente a questão emocional atua como um importante fator desencadeante da Psoríase em pessoas com certa predisposição genética para a doença. Fala-se em componente genético porque cerca de 30% das pessoas que têm psoríase também têm familiares acometidos por ela.

É fácil reconhecer os efeitos físicos da psoríase. Difícil é conceber o impacto da doença no emocional e psicológico. Pacientes com psoríase relatam sensação de vergonha, preconceito e angustia por causa do aspecto da pele. Por preconceito ou constrangimento, as pessoas deixam de procurar ajuda psicologia, complicando assim seu prognóstico.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica