Arquivo mensal: abril 2012

Vida e Morte na Pós modernidade

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No plano ontológico uma das dificuldades em abordar o tema da morte em filosofia e mesmo em Psicologia e Teologia, é que se trata do único evento na vida humana não suscetível de se transformar em experiência.

Para falar sobre a morte como para falar de qualquer tema atual, é preciso contextualizá-lo no período histórico e social em que estamos vivendo.
Vivemos uma época de incertezas, das desconstruções das narrativas, da inversão de valores, do Niilismo, do imediatismo, do hedonismo, da substituição da ética pela estética, do narcisismo, do consumismo, etc.

Cientistas sociais contemporâneos, como Zygmunt Bauman, entre outros, apontam a incerteza como característica da Pós-modernidade e consideram que a predominância desse sentimento se deve à dificuldade de prever com certa margem de segurança, a amplitude e as conseqüências das ações tomadas pelo homem contemporâneo. Para esses autores, se por um lado, as inovações tecnológicas nos dão segurança e conforto, por outro trazem paradoxalmente sérios problemas, principalmente no que diz respeito à saúde e aos danos causados ao meio-ambiente.

A vida perdeu seu valor, o Ter é mais importante que o Ser. O Ser só tem valor enquanto produtivo. O ser humano é desvalorizado devido à supervalorização dos bens materiais. A cultura contemporânea materialista enfatiza a personalidade centrada no EU, no individualismo. Observa-se uma valorização mercantilizada do corpo, passa-se a viver sob a regra vigente do silicone, do Botox, das cirurgias plásticas, da lipoaspiração, etc. O homem desafia e tenta driblar a velhice e a morte; porém sua principal característica é a consciência de sua finitude e a certeza de ser mortal.
Em tempos pós-modernos e em época de uma sociedade hipertecnológica em relação a um passado relativamente recente, vivemos alguns paradoxos: a duração da vida em número de anos se estende ao mesmo tempo em que a possibilidade da destruição total da vida humana é cada vez mais uma possibilidade.

O “morrer” sofre com a pressa moderna, já que os rituais em torno da morte estão empobrecidos simbolicamente, sendo cada vez mais rápido esse significativo momento da vida. Em conseqüência, a morte deixa de ser um “ato social”, partilhado pela comunidade – como foi durante séculos, passando para o âmbito privado, algo a ser vivenciado solitariamente. O velório é realizado em ambiente próprio e não mais em casa, manifestações de tristeza e choro são contidas para não constranger os presentes, os cemitérios mais se parecem com jardins, o período de luto se resume a poucos dias, logo a vida da família do morto ‘volta ao normal’.

A equipe de saúde procura dissimular a presença da morte impedindo que as pessoas tenham acesso ao quarto daquele que morre, procurando fazer rapidamente o preparo do corpo. Evita-se dizer que alguém morreu, usando, no lugar, a expressão, “foi a óbito”.

O medo da doença, da velhice e da morte torna-se maior. Um medo a ser enfrentado a ferro e fogo. A morte é escancarada e transformada em episódio midiática, sendo mostrada em forma de espetáculo, corpos abandonados nas calçadas, jovens agredidos à paulada pelas ruas e campos de futebol, o desrespeito pela vida e pela morte, crianças são jogadas pela janela, abandonadas em latas de lixo, jovens colocando fogo em morador de rua, mata-se por um par de tênis. A morte torna-se banalizada. O homem desperta para a consciência de sua Finitude. Da finitude que não descrimina ninguém.

A certeza da própria morte aciona mecanismos de reação para enfrentamento da Angústia diante da Finitude: é preciso resgatar a crença em Deus. A Pós-modernidade busca exatamente a reafirmação desses valores, ou seja, dos valores Transcendentais. É preciso crer em algo além da vida. Esta tendência já se faz sentir em todos os setores da vida em sociedade. Instituições se mobilizam.

A OMS – Organização Mundial de Saúde tem se preocupado em atuar no sentido de levar Instituições e profissionais a oferecer formação e treinamento específico para o Cuidado Paliativo. Universidades buscam parcerias com religiosos. Já é evidente a possibilidade de diálogo entre Ciência e Religião; Os Currículos das Faculdades de Medicina buscam incluir a Assistência Espiritual como disciplina obrigatória. A Ciência já admite a relação entre Fé e Cura.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

O Poder das Emoções: elas existem e são poderosas.

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Na vida, nada acontece por acaso, nem acidentes, nem sucessos ou insucessos, nem frustrações, nem mesmo doenças. Tudo tem uma causa, uma determinação, uma história, uma evolução. Tudo parece estar atrelado de alguma forma à nossas crenças, pensamentos, vontades, desejos, emoções, atitudes, comportamentos. Não estamos com isso, subestimando o fator circunstancial. Eles existem, e devem ser levados em conta. Nem todo acidentado o é, simplesmente porque o desejou. Não obstante, a pessoa emocionalmente perturbada, preocupada ou tensa, poderá estar mais distraída ao volante, se deprimida, mais lenta em seus reflexos, se ansiosa ou com raiva poderá imprimir no veículo maior velocidade ou ainda, se estressada, tensa ou culpada, praticar imprudências. Muitos acidentes acontecem após a vítima ter enfrentado problemas sérios de relacionamentos, onde se sentiu injusta, ingrata, infiel, ou deprimida, angustiada, magoada, ou, ainda, hostil, culpada, reprovada, merecedora de punição ou, sem motivos para continuar vivendo.

Quando descobrimos a dinâmica mental (consciente ou inconsciente) que está por trás de cada evento, de cada sintoma ou doença, temos oportunidade de compreender melhor o poder das emoções e intervir preventivamente sobre elas.

Nosso corpo é a expressão de nossas emoções e desejos. Logicamente, não descartamos outros fatores igualmente importantes na predisposição ou causa das doenças. Nosso interesse, no entanto, é focar, aqui, neste breve espaço, possíveis causas emocionais que interferem em certos acontecimentos, tipos de sintomas ou doenças, muitas delas frutos da observação e pesquisas do inconsciente.

A Anorexia e a Bulimia, por exemplo, são transtornos alimentares em que seu portador volta para si toda raiva, negam a vida, consideram-se indignas de viver, de ser amadas, apresentam baixa auto-estima, não se sente uma pessoa boa o suficiente para desfrutar dos prazeres da vida.

As alergias geralmente se manifestam em pessoas que reprimem sua agressividade, são hostis, porém contidas. Entre as doenças alérgicas, a asma brônquica é aquela em que a influência do emocional é mais evidente, estando ela relacionada à ansiedade e depressão.

Pessoas exigentes consigo próprias e com os outros, podem apresentar-se ansiosas, ter sintomas obsessivos ou contrair doenças como artrite, fibromialgias, dores sem etiologia definida. A enxaqueca pode ser expressão da incapacidade ou impossibilidade de expressar a raiva.

A desilusão, a raiva, a mágoa e o ressentimento podem ter expressão orgânica no caso de alguns tipos de câncer. A gastrite pode significar dificuldades em lidar com aborrecimentos, contrariedades, o popular “engolir sapos”. O medo, emoção antecipatória que em determinadas condições pode, também, ser chamado de fobia, é um sintoma de transtorno de ansiedade. Entre outros, a pessoa teme perder coisas, controle, poder, status, ficar sozinha, morrer, ser humilhada. O risco de ocorrência de Infarto de Miocárdio durante um episódio de raiva é nove vezes maior do que em algum outro momento da vida.

Todas as emoções vêm acompanhadas por reações fisiológicas. Quando sentimos medo ou raiva, a carga de adrenalina aumenta e faz com que nosso coração dispare e o corpo entre em estado de alerta. Quando estamos felizes, nosso corpo produz mais endorfinas, que resultam em sensação de bem-estar.

Reações emocionais como ira, hostilidade, medo, tristeza, depressão, ansiedade, apresentam correlatos de complicados mecanismos, que por influência do Sistemadepressão, psoríase,  Nervoso, afetam as secreções glandulares, órgãos, tecidos, músculos e o sangue.

Quando o organismo é continuamente sobrecarregado por tensões, a reação de estresse será seguida por depressão na esfera psíquica, por queda de resistência imunológica, dando origem à invasão microbiana, virótica ou mesmo “implosão, quando o organismo passa a atacar a si próprio, com as chamadas doenças autoimunes” (Esclerose Múltipla, Diabetes Mellitus insulino-dependentes, Artrite Reumatóide, Lupos Eritematoso Sistêmico etc.)

A pele tem sido entendida por autores tradicionais da psicologia como o principal meio de contato do sujeito com o mundo. As Dermatoses são doenças da pele cujo componente emocional é fundamental. A Psoríase é um caso bastante evidente desta relação. Observa-se com freqüência que os seus portadores apresentam características emocionais bastante peculiares que interferem de modo decisivo na recidiva e/ou piora dos sintomas desta doença, sobretudo, no aumento e extensão das lesões. Tanto a falta de controle das emoções como a não expressão das mesmas, são fatores que aumentam a vulnerabilidade frente às distintas enfermidades.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga

Solidão e Pós-Modernidade

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Solidão e Pós-Modernidade

Para Bauman (1992), a modernidade foi o momento de desenvolvimento de uma ordem racional e de uma liberdade individual até então não alcançada. O indivíduo pós-moderno vive intensamente o mito da liberdade individual. Ele nunca foi tão livre em suas escolhas privadas e públicas, mas também nunca foi tão solitário. (Cova, 1997).

A solidão é um fenômeno psicológico com implicações profundas de ordem espiritual, podendo vir acompanhado de inquietação, desânimo, ansiedade, sensação de isolamento e desejo de ser útil a alguém. Ela agrega sentimento de perda e a sensação de que a vida perde propósito e sentido, independentemente de existir ou não isolamento social.

Para a Filosofia o grande desafio é transformar a solidão em aliada de nossa realização pessoal. De acordo com a Filosofia o ser humano nasce só, sua dor e prazer ele os tem no recôndito do seu ser, e finalmente morre só.

Para a Sociologia a solidão é o resultado da produção social do individuo “Ego-centrado” e “Individualista”, que ao firmar sua individualidade, firma também a fragmentação do universo social e o isolamento.

Para a Psicanálise a solidão é considerada um mecanismo de defesa, e encontra-se intimamente ligado às doenças mentais, isto é, aos sintomas neuróticos e psicóticos.

A solidão é uma experiência dolorosa que tem assolado pessoas de todas as idades, raças, camadas sociais e crenças, já tendo sido considerado o grande mal deste século. O diagnóstico é do psicólogo americano John T. Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA) e autor do livro “Solidão: A Natureza Humana e a Necessidade de Vínculo Social”. Nessa obra o autor destaca como a vida moderna facilita a crescente falta de vínculos sociais. O sentimento é acompanhado de uma sensação de abandono, desamparo e angústia. Essa ausência de conexões com o mundo faz com que a pessoa se esqueça dos benefícios que a solidão pode trazer para suas vidas.

Especialistas alertam: “um pouco de solidão pode ser benéfico, e até necessário”. Alguns indivíduos podem sentir-se pressionados pelo ritmo de convivência imposto pelos tempos pós-moderno, e que, nesse caso, uma dose segura de solidão ajuda a superar a sensação de desconforto. “O isolamento moderado contribui para a reflexão”.

Nesta perspectiva podemos compreender a solidão como um estado de consciência no qual nos voltamos para nós mesmos e analisamos nossa vida, nossas relações, sem o peso da culpa, pautada numa análise não crítica, sem julgamentos ou culpas,  num movimento de reflexão sobre o que fizemos e as conseqüências de nossas ações. Dessa forma, a solidão pode ser uma oportunidade de autoconhecimento, de descobrirmos do que gostamos, queremos ou precisamos, bem como, dos recursos de que dispomos para alcançar nossos objetivos. É um modo de nos defrontarmos com o tumulto da pós-modernidade.

De acordo com estudiosos no assunto, o perigo é quando a opção pelo isolamento se manifesta sob formas patológicas, acompanhada de depressão, pânico e vícios, danosos à vida em sociedade.

A solidão é um processo necessário para que possamos desenvolver nossa individualidade. O grande paradoxo é que também precisamos nos relacionar com os outros para nos individualizarmos. Esse é o grande dilema da vida pós- moderna, pois a sociedade atual instrumentaliza o homem, supondo dar todos os recursos para uma vida plena, porém, ao mesmo tempo, torna suas relações efêmeras. O resultado é um individualismo cada vez maior.

A pós-modernidade caracterizou a “sociedade da solidão”, uma solidão nova, intermediada por tecnologia. Um processo em que os indivíduos passam a viver isolados em seus quartos, conectados com seus computadores, enquanto seus familiares estão na sala contígua interligados a outros computadores por meio da internet.

Essa nova configuração cria o espaço para a exacerbação de uma postura individualista apontando o EU como principio e fim de todas as coisas. O EU se vê prisioneiro de uma armadilha que revela sua condição de ser solitário.

A pós-modernidade engloba uma sociedade de denominações diversas: sociedade das mídias, sociedade da informação, sociedade high-tech, sociedade eletrônica. A dinâmica social dessa sociedade é marcada pela ênfase nas novas tecnologias da informação e possui características que nos levam a entender as novas formas de sociabilidade do “sujeito pós-moderno.

O indivíduo é levado à solidão e lhe são fornecidos mecanismos que fazem com que acredite piamente em uma interação social, mesmo que essa só ocorra por meio de dispositivos técnicos, de forma virtual.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

 

Fibromialgia e Psicoterapia

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A Síndrome de Fibromialgia (SFM) é a presença freqüente de dores musculares acompanhada de cansaço. É considerada uma Síndrome porque engloba um conjunto de sintomas que podem ocorrer simultaneamente. Trata-se de síndrome complexa, crônica e embora se manifeste como doença articular, ela não é inflamatória como a artrite e não causa deformidades, porém, se não tratada adequadamente pode tornar-se incapacitante. Manifesta através de dor crônica que é o principal sintoma, cuja intensidade varia de moderada a severa, podendo iniciar-se em uma região, particularmente nos ombros e pescoço, manifestando-se também em outros pontos do corpo. Afeta principalmente músculos e seus locais de fixação nos ossos. É uma forma de reumatismo de tecidos moles ou musculares e se refere à dor e rigidez, associadas às juntas, músculos e ossos.

Os critérios do Colégio Americano de Reumatologia envolvem, basicamente, o conceito de dor crônica generalizada, cefaléias severas, fadiga e dor cervical (entre outros) – além de sensibilidade ao toque digital em pelo menos 11 de 18 pontos de tendões ao longo do corpo. Fatores psicológicos e comportamentais estão sempre presentes, a ponto de se questionar se realmente Fibromialgia deve permanecer no campo da reumatologia ou da neuropsiquiatria.

Pacientes com Fibromialgia apresentam sintomas associados com: distúrbios do sono, dores de cabeça, fadiga, sensação de edema, formigamento nos membros superiores e inferiores, dificuldade para memorizar, falta de atenção. Geralmente é acompanhada por quadro depressivo, Disfunção na Articulação Temporomandibular, sintomas sugestivos de Síndrome do Cólon Irritável, bem como sintomas gástricos como dor abdominal e dificuldade de digestão, rigidez no corpo, particularmente ao levantar após períodos de longo repouso.

O paciente não apresenta nenhum tipo de alteração em exames laboratoriais. Por isso, seu diagnóstico depende principalmente das queixas ou sensações que o paciente relata. Seu portador sofre muito, sobretudo, por serem consideradas pessoas queixosas. Algumas pessoas podem olhar estes sintomas como imaginários ou desprezíveis.

O diagnóstico de Fibromialgia se baseia nas queixas de dores difusas associadas a uma sensibilidade aumentada em pontos específicos do corpo chamados de Pontos Dolorosos ou Tender-Points. São 18 os pontos, ou 9 pares, e pelo menos 11 devem ter reação dolorosa quando pressionados.

As pessoas descrevem a dor fibromiálgica como ardência, rigidez, pontadas e/ou fisgadas. A dor varia em intensidade e localização em função do tipo de atividade, do clima, da qualidade do sono, do estresse.

Cerca de 90% das pessoas com Fibromialgia sentem fadiga de moderada a severa, com perda da energia, diminuição da resistência aos exercícios físicos, podendo apresentar fadiga semelhante à de outra condição chamada Síndrome da Fadiga Crônica. O estágio de sono profundo pode estar interrompido e o paciente dorme superficialmente ou acorda muitas vezes durante a noite. Estudos têm mostrado que a ruptura no sono profundo altera muitas funções cruciais do organismo, incluindo a percepção da dor. Outros distúrbios do sono, incluindo Apnéia, Mioclonia e Síndrome das Pernas Inquietas são também comuns em paciente fibromiálgicos.

Mudanças no humor e na maneira de pensar são comuns na fibromialgia. Muitos sentem desânimo, outros manifestam ansiedade, porém grande porcentagem desses pacientes está verdadeiramente deprimida.

A forma como uma pessoa pensa ou reflete a respeito da sua dor parece ser fator a ser considerado. Os níveis da dor generalizada são bem maiores nas pessoas com pensamentos negativos ou catastróficos. Daí a terapia Cognitivo-Comportamental ser a abordagem considerada eficaz. Medicamentos que aumentam os níveis de serotonina e norepinefrina ou diminuem os neurotransmissores excitatórios são eficazes em alguns pacientes – daí, o uso de antidepressivo ser indicado como parte do tratamento.

Na verdade, inúmeros fatores, isolados ou combinados, podem desencadear a Fibromialgia, como: doenças infecciosas, traumas físicos ou emocionais, alterações hormonais, infecção, perda de pessoa queridas, mudanças de emprego, aposentadoria, menopausa. É comum o paciente informar que a síndrome teve início após alguns desses eventos. O tratamento deve ser de natureza multiprofissional com acompanhamento psicoterápico, sobretudo, voltado para mudanças no estilo de vida.

Muitos pacientes com Fibromialgia podem fazer uso abusivo de analgésicos, antiinflamatórios e a automedicação pode ser um procedimento perigoso, envolvendo risco de dependência.

A psicologia possui técnicas e procedimentos que podem ajudar no alívio de sintomatologia, melhorando a qualidade de vida destes pacientes.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

                           Psicóloga Clínica 

Resiliência e Religião

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Resiliência é o ato de retorno de mola; sua elasticidade, seu poder de recuperação. O trabalho necessário para deformar um corpo até seu limite elástico.

O Novo Dicionário Aurélio traz o seguinte significado: é a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida, quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica. Este termo, então, advém da Física, e passa o sentido de elasticidade, flexibilidade de um corpo quando pressionado, esticado, dobrado, porém esta idéia não expressa sua totalidade. No entanto, este termo tem sido também, utilizado pela Psicologia emprestado da Física.

Em psicologia, resiliar [résilier] é recuperar-se, ir pra a frente depois de uma doença, perda, trauma ou estresse. É vencer as provações e as crises da vida, isto é, resistir a elas primeiro e superá-las depois, para seguir vivendo o melhor possível.

O primeiro a usar o termo resiliência, em sentido figurado, foi o conhecido psicólogo John Bowlby, que o definiu como um recurso moral, qualidade de uma pessoa que não desanima, que não se deixa abater.

O paradigma da resiliência descreve como a fé, a espiritualidade, ou a pertença a um grupo, comunidade ou instituição religiosa influenciam na hora da superação das dificuldades e sofrimentos pessoais e sociais.

As atitudes resilientes podem ser promovidas, com o apoio de pessoas ou instituições (família, igreja, escola, centro de saúde, organizações ou associações sociais ou políticas etc.), que se preocupam em motivar a ativação das capacidades de superação das dificuldades. Pensa-se na ação preventiva e na promoção, ou seja, como

fomentá-la no ambiente familiar, social, de trabalho e de missão mediante a educação, das intervenções sociais, das políticas públicas, assim como dos projetos comunitários civis ou eclesiais.

As capacidades resilientes dos seres humanos e dos grupos, por mais promovidas e desenvolvidas que estejam, não são ilimitadas. Todo ser humano tem um limite pessoal para lidar com a adversidade.

Para promover e potencializar a resiliência de um grupo ou de uma pessoa é preciso investigar e descobrir os pilares que sustentam a resiliência, isto é, os recursos próprios que as pessoas dispõem, e os fatores de proteção do meio circundante, ou seja, as capacidades que há na família, no ambiente ou na instituição educativa, social, política ou religiosa. Esse processo de fortalecimento e capacitação é conhecido hoje como empoderamento (empowerment) e preocupa-se em “identificar os recursos, revelá-los a quem os possui – que freqüentemente não sabe que os possui – e ajudá-lo a aplicá-los.

Flach (1991) estabelece alguns traços característicos de personalidade e alguns atributos do indivíduo resiliente. Os principais são:· uma forte auto-estima, senso de humor,· independência de pensamento e ação, sem medo de depender dos outros ou relutância em fazê-lo, capacidade de trocas nas relações, um grupo estável de amigos (inclusive alguns confidentes). disciplina pessoal e senso de responsabilidade, reconhecimento e desenvolvimento de dons e talentos pessoais, auto-respeito,· criatividade, habilidade para recuperar a auto-estima quando esta estiver diminuída ou temporariamente perdida, capacidade para aprender, capacidade para tolerar a dor, grande tolerância ao sofrimento, abertura e receptividade para novas idéias, disposição para sonhar, uma vasta gama de interesses, insight a respeito dos próprios sentimentos e percepção dos sentimentos dos outros, e a capacidade para comunicar estas opiniões de maneira adequada, flexibilidade, concentração, um compromisso com a vida, e um contexto filosófico no qual as experiências pessoais possam ser interpretadas com significado e esperança, até mesmo nos momentos mais desalentadores da vida.

A literatura sobre resiliência ainda é pouco exaustiva ao falar de religiosidade, fé ou espiritualidade. Poucos são os autores abordam a temática. No entanto, Vanistendael, com marcada ênfase nesse aspecto, considera que o sentido da vida, como pilar de resiliência, pode estar vinculado a uma filosofia de vida, uma vida espiritual e fé religiosa.

Alguns estudiosos no assunto consideram que a espiritualidade com suporte congregacional permite suportar crises e superá-las com eficácia já que na confiança na presença divina é possível até “crescer com a adversidade”, sentindo que não tem somente a força dos homens, mas uma força superior. Para Neale Donald Walsch, autor norte-americano da série de livros “Conversando com Deus”,  a religião e a espiritualidade podem ser recursos terapêuticos poderosos para recuperação, cura e resiliência.

Profa. Dra Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

Psicoterapia Breve: um recurso eficiente e econômico.

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Psicoterapia é um processo de tratamento para problemas de ordem emocional ou mental que, utilizando-se de abordagens psicológicas propicia condições favoráveis para o autoconhecimento do cliente, facilitando sua compreensão sobre as influências do seu estilo de vida, comportamento, atitudes e pensamentos na determinação de seus problemas e conflitos. È um recurso terapêutico para promover maior desenvolvimento da percepção que o indivíduo tem de si mesmo e do seu entorno, uma oportunidade que a pessoa tem de identificar e reconhecer seus defeitos, qualidades e potencialidades e entender as razões pelas quais agem desta ou daquela maneira.Refere-se às intervenções psicológicas que buscam melhorar o funcionamento mental do indivíduo, assim como de seus sistemas interpessoais.

A Psicoterapia busca fornecer condições para que a pessoa, dentro de seu próprio referencial (e não do terapeuta) apreenda suas características de personalidade, temperamento e caráter. O processo de autoconhecimento leva o cliente a ter insights, auxiliando em suas tomadas de decisão e mudança de comportamento.

A Psicoterapia tem hoje, seu uso difundido e conta com várias linhas de abordagens diferentes. As de base psicanalítica, que surgiram com trabalhos de Sigmund Freud na virada do século XIX para século XX, com vários seguidores e dissidentes como Adler, Melaine Klein, Bion, Lacan e outras como o Psicodrama, Psicologia Analítica de Jung, Análise Existencial e a Terapia Cognitivo-comportamental, Esta última, desenvolvida por Aaron Beck, na Universidade da Pensilvânia, no início da década de 60, como uma Psicoterapia Breve, estruturada, orientada para o presente, para tratar depressão, direcionada para a resolução de problemas atuais e modificação de comportamentos disfuncionais. Desde então, Beck e seus seguidores vêm adaptando com sucesso essa terapia para um conjunto surpreendentemente diverso de populações e desordens psiquiátricas, mantendo seus pressupostos teóricos básicos.

A Psicoterapia Cognitivo-comportamental já testada, dentro de um Modelo Empírico, encontra-se bastante difundida na Europa graças à sua eficácia, alcançando seu apogeu nos últimos anos, agora, também, no Brasil.

A vida moderna e o poder aquisitivo das pessoas demandam por serviços cada vez mais eficientes e em tempo reduzido para resolução de problemas de qualquer natureza. Limitações econômicas e pouca disponibilidade de tempo são fatores que interferem de forma decisiva na hora de buscar ajuda psicoterápica. A perda de valores vitais, a constante cobrança e exigências em termos de realização humana, o baixo poder aquisitivo e alto custo de tratamentos especializados, têm restringido certas práticas médicas e psicológicas a poucos privilegiados.

Adaptações técnicas às atuais condições do mundo moderno carecem cada vez mais de especialistas nesta área, com conhecimentos sérios, e profunda consciência social.

O grande desafio do século XXI é procurar soluções para os problemas e conflitos pessoais e sociais de forma adequada, eficiente, rápida e econômica. A Psicoterapia Breve é um desses recursos, pois visa atingir os problemas emocionais mais prementes que possam ser solucionados em curto prazo. Sua eficácia depende, sobretudo, da motivação do cliente e sua disposição em mudar. Esta é a chave para se obter resultados positivos satisfatórios nesta abordagem. Trata-se de um Modelo de Psicoterapia, com objetivos específicos. Apesar do termo “breve” remeter à idéia de um tratamento de curta duração, ela possui outras características entre elas, o estabelecimento de um foco (ações voltadas para queixas principais do paciente e ou motivos que o levaram a procurar ajuda). É uma terapia centrada na superação de sintomas, voltada para solução de conflitos atuais que se configuram como prioridades para o cliente. É uma abordagem ativa, exigindo do terapeuta a capacidade de associar o rigor da técnica ao referencial teórico. Desse modo, trata-se de uma técnica, com características próprias e não simplesmente um encurtamento do processo psicoterápico. Envolve o uso de inúmeras técnicas cognitivas e comportamentais, através das quais o paciente poderá chegar à reformulação, reparação ou superação de seus conflitos. Estes procedimentos exigem treino e experiência por parte do terapeuta.

Cabe ao terapeuta o acompanhamento e evolução do processo e, em casos de necessidade de aprofundamento, seja por insuficiência de domínio das tensões conflitantes, por parte do cliente, ou mesmo por decisão deste em dar continuidade ao processo de autoconhecimento, a reformulação das bases de atendimento e o preparo do cliente para etapas consecutivas.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga

Emoções à flor da pele

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  A ciência ainda não encontrou respostas exatas para muitos problemas de saúde humana. No entanto, é impossível desprezar a observação clínica quanto a influência do emocional em algumas doenças. Fatos circunstanciais levam a acreditar que efetivamente, em certas situações, estados emocionais específicos tiveram pelo menos uma estreita relação com a doença.

A conexão corpo-psique deve começar a ser entendida através do conceito de emoção. Há um plano psíquico e outro somático pelo qual podemos perceber qualquer manifestação emocional. Juntos formam uma unidade funcional. Não existe emoção que não seja manifestação fisiológica e psíquica simultaneamente. Toda emoção acompanha-se de alterações do fluxo sangüíneo, alterações elétricas na superfície da pele, mudanças respiratórias, bioquímicas, posturais, que envolvem o corpo em seus diversos sistemas e aparelhos. Ao mesmo tempo apresentam-se como vivência psíquica, que permite a quem as sente reconhecer o que está sentindo; se raiva, medo, tristeza, alegria. Portanto, a pele tem relação estreita com a nossa mente e reflete muito do que se passa em nosso interior, pois é altamente sensível às nossas emoções.

É sabido que, fortes emoções podem resultar em náuseas, vômitos, diarréia, desmaios, crises hipertensivas, derrames cerebrais ou infartos do miocárdio. Esses fenômenos são exemplos claros da ligação entre a mente e o corpo,  facilmente observáveis, sugerindo ou mesmo confirmando que mente e corpo funcionam em conjunto.

Embora a medicina ocidental tenha procurado menosprezar a ação da mente sobre o corpo, o “rubor” da pele, em situações de constrangimento ou embaraço, a sensação de frio nas mãos em situação percebida como ameaçadora, a palidez da pele em ocasiões de susto ou o aumento do suor em momentos de tensão sempre indicou haver alguma ligação entre o que ocorria nos pensamentos e o que a pele manifestava. O aparecimento de coceiras sem causa aparente, em fases de maior preocupação, ou mesmo doenças como dermatites, urticárias, alergias, psoríase e pelada, indicam o que pode a mente provocar na pele.

Aproximadamente um terço dos pacientes de clínicas dermatológicas, apresentam alguma forma de transtorno emocional, variando desde transtornos de ansiedade e humor até as várias apresentações de transtornos do espectro obsessivo-compulsivo.

Estudos na área de dermatologia dão conta que 40% dos pacientes que procuram médicos desta especialidade têm algum problema emocional.

Há certas dermatoses que apresentam ligação estreita com estados emocionais, pelo menos numa significativa porcentagem de pessoas. Apsoríase é o exemplo mais marcante. Observa-se, com freqüência, que os pacientes com psoríase têm um alto nível de ansiedade. O vitiligo é outra dermatose sobre a qual o estresse exerce importante influência. A dermatide atópica, um tipo de alergia, que pode aparecer logo aos primeiros meses de vida, também contém um componente emocional intenso. Outras doenças da pele como a dermatite seborréica, a neurodermite, hiperidrose axilar e palmoplantar, a alopécia areata e(arrancamento compulsivo de cabelos e pêlos) onicofagia (roer as unhas) são quadros em que a relação mente-pele é evidente, em maior ou menor grau. O fato de as emoções afetarem a pele não é coincidência, uma vez que depois do cérebro, a pele é o órgão com o maior número de terminações nervosas do corpo. Isso quer dizer que a pele está intimamente ligada ao sistema nervoso central e, conseqüentemente, às emoções.

Esses quadros, que derivam do envolvimento entre a mente e a pele, são designados distúrbios psicodermatológicos. Os distúrbios psicológicos mais comumente envolvidos com dermatoses são: estresse, ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo e estresse pós-traumático.

Há tempos cientistas observam uma associação entre stress crônico e danos ao cromossomo. Sabe-se que o stress pode ser o responsável pelo envelhecimento precoce. Entretanto, pouco se sabia sobre como esse processo acontece. Agora, pesquisadores da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, descobriram um dos mecanismos que ajudam a explicar a relação: a adrenalina, hormônio liberado quando uma pessoa é tomada pela tensão, pode diminuir a quantidade de uma proteína chamada P53, responsável por proteger o genoma.

Profa.Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga/Psicoterapeuta

Finitude: ser-para-morte

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“O Homem é um ser que leva o cadáver nas costas a vida inteira, pois sabe mais do que deve e menos do que precisa”. Luiz Felipe Pondé

O Homem é o único ser sobre a terra que tem consciência de sua finitude, o único, a saber, que sua passagem neste mundo é transitória e deve terminar um dia.

A Morte enquanto fenômeno psicossocial é altamente dinâmica e responsiva às mudanças no espírito do tempo, assumindo diversas representações coletivas nas sociedades ocidentais ao longo da história, conforme nos atesta a ampla documentação efetuada por Ariès, (1977).

O tema da Morte trás em si um conteúdo psicológico e emocional extenso e difícil de ser abordado de forma breve, não podendo deixar de fora os tópicos mais importantes. A Ansiedade, a Angústia, a Impotência e a Solidão com todos seus sintomas e sensações (perdas, raiva, dúvidas, expectativas, apreensões, sentimento de abandono, inseguranças, vazio existencial, etc.).

Psicanaliticamente, a morte iminente está fortemente vinculada à castração, pois ela subtrai sua possibilidade de vida. A angústia de castração é decorrente do medo de ser separado de algo extremamente valioso para o indivíduo. Porém, a experiência da morte representa a “castração por excelência”, pois é irreversível e incapaz de ser descartada através de subterfúgios. O EU permanece absolutamente vulnerável e indefeso perante a morte.

Cada um de nós traz dentro de si sua representação ou interpretação da morte. Sendo assim damos a ela simbolismos, qualidades e formas diversas. Dependendo desta representação é que o homem enfrentará sua própria morte.

A morte é uma constante ameaça. É impossível compreendê-la ou mesmo aceitá-la com tranqüilidade. É, segundo Filósofos, Teólogos e Psicólogos, a maior Angústia do ser humano.

Para grande maioria das pessoas a morte é interpretada como, ruptura, desintegração, situação limite, desespero. No entanto, há quem a veja com certo fascínio (as grandes produções cinematográficas), uma grande viagem (produto de obras literárias), descanso ou alívio (no caso do sofrimento e da dor).

Em uma sociedade bastante ocupada em descobrir fórmulas de rejuvenescimento e em prolongar a juventude e a beleza, parece claro que não há muito espaço para conversar sobre a morte. A morte traz a dura realidade da limitação biológica: tudo possui um ciclo e o findar é parte desse ciclo.

Teoricamente a morte é um dos elementos integrantes do ciclo da vida. O indivíduo nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre. Esse ciclo, até o envelhecimento, para a maioria das pessoas é considerado natural e aceitável, sendo o processo de morte e morrer temido e adiado.

Foram muitos os biólogos, psicólogos, filósofos, teólogos e antropólogos a investigar sobre este assunto no decorrer da história. De fato, a morte se mostra em diversos olhares. Trata-se de uma pré-ocupação fundamentalmente humana. Na perspectiva organicista, ela pode ser vista como um processo natural e inevitável, ligada a uma programação genética específica para cada espécie de ser vivo em particular. O ser humano é percebido como um material orgânico e, assim sendo, possui um “prazo de validade”. No entanto, este entendimento puramente biológico sobre a morte não parece ser suficiente para o ser humano que busca compreendê-la a partir de suposições que vão aquém e além da sua dimensão física.

Segundo Fiefel e Nagy (1981), nenhum ser humano está livre do medo da morte, e todos os medos que temos estão de alguma forma, relacionados a ele.

O medo da morte é ancestral. Só não tem medo quem é louco.

O medo e a ansiedade tem funções importantes e necessárias ao nosso desenvolvimento emocional quando colocados frente a frente com as situações que devemos enfrentar.

Enquanto a morte não vem, o medo, enquanto defesa nos faz mergulhar em ocupações, em atividades, trabalho, lazer, falações, contendas para não termos que nos preocupar com ela. Fugimos ou negamos, fazemos de conta que não nos diz respeito.

Não obstante, a morte trás em si, a dimensão do tempo que nos revela nossa condição de ser-para-morte,

Somente pela fé na Transcendência, o ser humano poderá encontrar alívio para sua angústia diante da Finitude.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

Terapia Cognitivo-comportamental

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  “As crenças que temos sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre o futuro, determinam o modo como nos sentimos: o que e como as pessoas pensam afeta profundamente o seu bem-estar emocional “ ( Beck e Kuyken, 2003)

A terapia cognitiva (TC) foi desenvolvida por Aaron Beck no início da década de 60, na Universidade da Pensilvânia, EUA. Beck tinha como objetivo investigar os mecanismos inconscientes propostos pela psicanálise para explicar o mecanismo da depressão, a partir de estudos empíricos e observações clínicas sistemáticas. Porém, resultados de suas investigações não se mostraram compatíveis com as pressuposições psicanalíticas, levando-o a buscar outros construtos que explicassem de forma satisfatória os dados empíricos observados.

Beck observou que humor e comportamentos negativos eram usualmente resulta de pensamentos e crenças distorcidas e não de forças inconscientes até então sugeridas pela Teoria Freudiana, ou seja, a depressão podia ser compreendida como sendo decorrente das próprias cognições e esquemas cognitivos disfuncionais. Observou que pacientes com depressão acreditam e agem como se as coisas fossem piores do que realmente são.

Utilizando-se da base empírica da teoria da melancolia de Freud, Beck desenvolveu estudos sobre a depressão e em 2006, descobriu que sua pesquisa invalidava conceitos psicanalíticos de depressão e que sintomas desta psicopatologia podiam ser melhor explicados através do exame dos pensamentos conscientes do paciente, no lugar de tentar trazer a tona (hipotéticos) desejos reprimidos e motivações inconscientes. A partir de então, desenvolveu um tratamento para depressão de modo a auxiliar os pacientes a solucionar seus problemas atuais, mudar seus comportamentos disfuncionais e responder de forma adaptativa a seus pensamentos disfuncionais.

As descrições dos indivíduos sobre si mesmos e de suas experiências evidenciavam pensamentos e visões negativas de si mesmos, de suas experiências de vida, do mundo e do seu futuro. Beck deu a esses pensamentos o nome de “pensamento automático”, visto que não precisam ser motivados pelas pessoas para vir à tona. Esses pensamentos são o resultado da forma do indivíduo interpretar as situações do dia-a-dia, ou seja, o que fica “gravado” como importante não é o que está acontecendo de fato, mas a interpretação que o indivíduo dá para o fato. Tais visões demonstram distorções cognitivas da realidade.

As terapias designadas de terapias cognitivo-comportamentais ou (TCC), denomina-se assim porque constituem a integração de conceitos e técnicas cognitivas e comportamentais.

O modelo teórico cognitivo-comportamental considera a cognição como a chave para os transtornos psicológicos, pois a cognição é a função que envolve deduções (pensamentos) sobre a experiência singular do indivíduo e sobre a ocorrência e o controle de sua percepção dos eventos.

Cognição é um termo amplo que se refere ao conteúdo dos pensamentos e aos processos envolvidos no ato de pensar. São aspectos da cognição as maneiras de perceber e processar as informações, os mecanismos e conteúdos de memórias e lembranças, estratégias e atitudes na resolução de problemas.

A psicopatologia é resultante de significados mal adaptativos que o sujeito constrói em relação a si, ao contexto ambiental (experiência) e ao futuro (objetivos), que juntos formam a tríade cognitiva. Na ansiedade, a visão de si é vista como inadequada, o contexto é considerado perigoso e o futuro parece incerto. Já na depressão, os três componentes são interpretados negativamente.

A terapias Cognitiva baseia-se no pressuposto teórico de que os afetos e os comportamentos de um indivíduo são determinados em grande medida pelo seu modo de estruturar o mundo. Isto quer dizer que a visão do mundo de uma pessoa, influencia a forma como ela pensa, sente e age.

A Terapia Cognitiva propõe que nossas emoções e comportamentos não são simplesmente influenciados por eventos e acontecimentos e sim pela forma através da qual processamos, percebemos e atribuímos significados às situações. O homem é um ser em busca constante por significados e explicações. Quando pensamos, estamos também interpretando esta realidade e a nós mesmos. A Terapia Cognitiva busca basicamente intervir sobre as cognições para modificar emoções e comportamentos disfuncionais.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

“Festina Lente” (Apressa-te Devagar ou lentamente).

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             Sentir-se oprimido pela falta de tempo é um sentimento muito comum nos dias de hoje. Poucas pessoas se dão conta de estarem sofrendo da “doença do tempo”, ou seja, de estarem estressadas, sobrecarregadas, ansiosas, com muita pressa. A “ansiedade pela falta de tempo” produz sensação de perda, insegurança, medo e conseqüente tensão e dificuldade para relaxar. Este mal-estar é chamado de “Síndrome da Pressa”, e seus sintomas são: ansiedade, impaciência, intolerância, irritabilidade, descontrole emocional. É comum observar, por exemplo, alguém perder o controle por ter que esperar alguns minutos na fila do banco, antecipar-se no sinal de transito, brigar no engarrafamento, sentir-se impaciente enquanto espera para ser atendido em alguma repartição ou por não conseguir concluir um projeto ou outra atividade qualquer. Essas pessoas vivem estressadas, mesmo porque se sobrecarregam de responsabilidades, estão sempre com suas agendas lotadas de compromissos. São pessoas que, pelas condições e estilo de vida, acabam sofrendo alterações hormonais com sérias conseqüências de natureza físicas e emocionais. O homem moderno vive de maneira acelerada, à revelia de seu ritmo biológico ou relógio interno. A mania de correr contra o relógio, mesmo quando não há compromissos a cumprir, já pode ser considerada uma alteração de comportamento. Estudada desde os anos 80 e descrita pela primeira vez nos Estados Unidos, a “Síndrome da Pressa” é desencadeada pela crença de que se pode realizar tudo, agindo de maneira acelerada. Geralmente não se trata de um distúrbio emocional, distúrbio emocional, mas é conseqüência natural das pressões da vida moderna, do trabalho, da cobrança e exigência pessoal. Trata-se de um comportamento que pode eventualmente desencadear transtornos físicos como doenças crônicas geradas pelo estresse, fibromialgia, doenças cardíacas, infarto, arritmias, diabetes, úlceras, e transtornos emocionais como: compulsões, hiperatividade, ansiedade generalizada, hipomania, etc. Em alguns casos, a manifestação do problema pode ter causas internas mais profundas, como o perfeccionismo, a insegurança, a baixa auto-estima, etc. As pessoas estão cada vez mais aceleradas e o problema já afeta vários setores da vida do homem moderno, com repercussões conjugais, familiares, sociais e profissionais. Quem sofre desde problema se ocupa de várias atividades ao mesmo tempo, estão sempre ocupadas, sem tempo para o lazer, aflitas, sem intervalo para descanso, não conseguindo parar, mesmo depois do expediente, levando serviço para casa, sentindo-se cobradas por si próprias o tempo todo, podendo ficar, intolerantes e agressivas com as pessoas à sua volta, quando estas não conseguem adotar o mesmo ritmo. Vivemos em uma sociedade pautada pelo consumo, somos valorizados pelo que temos. Somos estimulados o tempo todo a trabalhar exageradamente para podermos consumir mais e mais. A “Síndrome da Pressa” é uma espécie de normose, ou seja, uma conivência com esta ideologia, na medida em que leva seu portador a aceitar cobranças (internas e externas), sem considerar os prejuízos de tal comportamento para sua qualidade de vida. A sensação de que o tempo passa muito depressa está relacionada aos avanços tecnológicos, como fax, e-mail, internet, comunicação por satélite, celular, meios de comunicação que faz com que a informação chegue mais rápida. Muitos têm a percepção de estarem sendo ultrapassados; já não é mais o medo de que os grandes dominem os pequenos, mas, de que os mais rápidos, os mais bem informados ultrapassam os mais lentos, os menos informados. O problema se agravou com a informatização, as pessoas não têm mais tempo para o diálogo, são impacientes a ouvir detalhes, querem a resposta com a mesma rapidez que a obtida pelo computador’’. É preciso desacelerar. A pressa tem conseqüências indesejáveis para o organismo humano. Não somos máquinas. É necessário diminuir o ritmo, equilibrar a correria do dia-a-dia, reaprender a administrar o tempo, repensar crenças e valores. “Porque o Egito os ajudará em vão, e para nenhum fim; pelo que clamei acerca disto; no estarem quietos estará a sua força”. (Isaias 30:7) Profa. Dra. Edna Paciência Vietta Psicóloga Clínica