Arquivo mensal: junho 2013

Consumismo, Narcisismo e ditadura da felicidade

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Consumismo, Narcisismo e a ditadura da felicidade

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Consumismo, Narcisismo e a ditadura da felicidade

Fica cada vez mais evidente na nossa civilização o surgimento de um novo estilo de vida que influencia gostos e atitudes dos indivíduos de forma geral. Os avanços tecnológicos e a busca exacerbada pelo prazer potencializaram o “individualismo” dando ênfase aos aspectos mais preponderantes do narcisismo em nossa sociedade.

Na visão psicanalítica, o narcisismo que acontece na infância é considerado como primário e é parte do processo normal do desenvolvimento humano. Nesse primeiro momento, há um autoerotismo em que a energia libidinal estaria concentrada no ego servindo de proteção, além de fonte de fantasias. O ser nessa condição está totalmente voltado para si. Essa etapa é indispensável para o desenvolvimento humano e não se confere a ela nenhuma patologia. O narcisismo, portanto, retrata a tendência do indivíduo de alimentar uma paixão por si mesmo. Segundo Freud, isso acontece com todos até certo ponto, a partir do qual deixa de ser saudável e se torna doentio, conforme os parâmetros psicológicos e psiquiátricos. Com o desenvolvimento do indivíduo essa energia libidinal ligada ao ego tende a se deslocar para os objetos, ou seja, o ego narcísico passará a procurar no Outro a realização de seus desejos e satisfação. Quando isso não acontece, instala-se o narcisismo patológico.

Numa sociedade consumista a libido é novamente redirecionada ao eu, ou seja, há uma regressão ao narcisismo e a sociedade é pautada por certas características: supervalorização da auto-realização, egocentrismo, personalidade centrada no EU, no individualismo, particularismo, hedonismo, busca por viver intensamente o presente, sentimento de desprezo e apatia pelo coletivo, buscando apenas a própria vantagem, só necessitando do outro como instrumento de confirmação do próprio eu. Nesse contexto, o Outro, é também apresentado como objeto para o consumo.

De acordo com Costa (1988), os distúrbios narcísicos, neste contexto, resultam de uma ampliação da experiência de impotência e desamparo, bem como de um clima de desorientação e ansiedade que tendem a se generalizar em nossa sociedade. Assim, o narcisismo se revela com o objetivo de evitar desprazer, dor, sofrimento ou privação.

Essa nova conjuntura levou o indivíduo a criar uma identidade pautada no consumismo, transformando tudo e todos em mercadorias que podem ser consumidas, coagindo o indivíduo a comprar para se sentir feliz tornando o que se pode chamar de ditadura da felicidade. Esta “felicidade material” faz com que a sociedade torne-se cada vez mais alienada – refém da própria existência.

A felicidade passou a ser pautada na aquisição de bens e poder, no consumo. Assim, é mais feliz quem puder consumir mais.

O objetivo natural do homem é ser feliz. Ao longo da civilização, muitos foram os caminhos percorridos pelo ser humano na busca dessa realização.

Assim, na Antiguidade, Idade Média e Modernidade a felicidade estava ancorada no Outro – no social, no coletivo – enquanto na atualidade, o ancoradouro da felicidade é o Eu – no indivíduo. Observamos a exacerbação do individualismo e a fragilidade dos laços sociais. Na prática, ao contrário de tempos antigos em que a sensação de encontro com a felicidade se via confirmada pelos Ideais mais amplos: Nação, Ideologias, Utopias, Família – hoje, temos a sensação de felicidade apenas quando não somos frustrados em nosso narcisismo.

Desse modo, a sociedade pós-moderna culminou com o Narcisismo, o Hedonismo: o prazer desenfreado e a busca incessante do prazer; o Niilismo: vazio existencial; o Pluralismo: onde não há absolutos, ou seja, a verdade maior fica relativizada; o Consumismo, com a valorização do ser pelo ter; no pragmatismo: sacrifício ao futuro em prol de um imediatismo total e escravizador, na busca desenfreada por resultados; individualismo: o homem passa a ser a medida de si mesmo, anulando tudo e todos ao seu redor; e finalmente, o Utilitarismo: onde o foco está nas vantagens do ser, somado ao conceito do descartável.

Se é que ainda possamos interferir neste processo devemos: proteger nossas crianças da publicidade excessiva, não incentivar o consumismo, estimular sua imaginação e criatividade, promover o contato com a natureza e com os livros. Só, assim, poderemos ter no futuro, adultos responsáveis, mais sensíveis e solidários, motivados a agirem como agentes transformadores da sociedade.

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

Flexibilidade Cognitiva: requisito indispensável no mundo moderno

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imageshuyuhj Flexibilidade Cognitiva: requisito indispensável no mundo moderno

   “É impossível progredir sem mudanças, e aqueles que não mudam suas mentes não podem mudar nada” (George Bernard Shaw)

Somos aquilo que pensamos, porém algumas vezes construímos idéias irrealistas a nosso respeito. Quando nossas percepções encontram-se distorcidas, tendemos a interpretar os fatos erroneamente, emitindo idéias inadequadas ou equivocadas sobre o mundo, as pessoas e nós mesmos. Quando isso acontece com freqüência, apresentamos rigidez de pensamento, cuja tendência, é manter as coisas como elas estão (imutáveis ou acomodadas), como medida de proteção do self (eu), assumimos, então, uma posição inflexível, um padrão rígido de interpretar os fatos, a vida e os problemas.

Padrão Rígido se refere a uma “crença subjacente de que se deve fazer um grande esforço para atingir elevados padrões internalizados de comportamento e desempenho. Costuma se revelar em sentimentos de pressão ou dificuldade de relaxar e em postura crítica exagerada com relação a si mesmo e aos outros. Pode se manifestar como perfeccionismo, utilização de regras rígidas, intolerância, teimosia em relação à opinião de como as coisas deveriam ser, incluindo preceitos morais, éticos, culturais e religiosos elevados, fora da realidade.

Padrões inflexíveis ou postura crítica exagerada estão fundamentados na crença de que grande esforço deva ser empreendido na obtenção de elevados padrões internos de comportamentos e no desempenho para evitar críticas, o que reflete em sentimentos de pressão, dificuldade de relaxar e em posturas críticas exageradas com relação a si e aos outros. Envolve significativo prejuízo do prazer, do relaxamento, da saúde, da autoestima, da realização e de relacionamentos.

Ter alta flexibilidade cognitiva significa ter capacidade para mudar e/ou produzir mudanças, ser capaz de perceber respostas alternativas para uma mesma situação ao invés de ficar preso somente ao primeiro pensamento que vier à mente (pensamento automático). É conseguir flexibilizar respostas usando a memória, percepção, pensamentos, e assim elaborar a melhor resposta de modo a se adaptar às situações diversificadas. É a capacidade de buscar interpretações alternativas para uma mesma situação.

Flexibilidade é uma palavra que vem do latim tardio “flexibilitare” e significa, em seu sentido mais amplo, capacidade de adaptação, seja a situações novas ou na superação de obstáculos.

Para que ocorram mudanças cognitivas é preciso estar aberto a novas e diferentes idéias e pessoas, provocando e desafiando pensamentos disfuncionais. Para isso se faz necessário o uso da plasticidade cerebral e da flexibilidade cognitiva.

Plasticidade cerebral é a capacidade que o cérebro tem em se remodelar em função das experiências do sujeito, reformulando as suas conexões em função das necessidades e dos fatores do meio ambiente. É, portanto, condição necessária para a aprendizagem, uma propriedade intrínseca e característica importante do cérebro sendo um forte argumento neurocientífico sobre a aprendizagem, durante “toda a existência humana”. Ninguém pode ser igual a vida toda. Uma mente inovadora e criativa é fundamental para a sobrevivência, principalmente na vida profissional.

As pessoas inflexíveis têm rigidez em quase tudo o que fazem. A começar por seus pensamentos, dificilmente aceitam outras opiniões além das suas. Sentem dificuldades em mudar, inclusive nas mudanças que a vida impõe e não estão abertas a discussões. A rigidez distorce significados e causa sofrimentos desnecessários.A pessoa inflexível não admite mudanças, no entanto, a essência da vida é a transformação. A vida está em constantes transformações e precisamos nos adaptar a elas. A inflexibilidade costuma destruir laços sentimentais de amizade, mesmo no seio familiar, acarretando conflitos muitas vezes irremediáveis. É também, considerada como responsável por muitos conflitos familiares: discussões, brigas e separações entre casais. A pessoa inflexível apenas enxerga suas próprias razões sem ceder um milímetro sequer às ponderações do outro. Espera sempre que os outros se adaptem a elas, sua opinião deve sempre prevalecer.

Um dos objetivos da psicologia cognitiva é reinstalar a flexibilidade no paciente, fazendo com que ele (re) aprenda a enxergar diversas possibilidades de resolução para as adversidades da vida.

Hoje em dia, ser flexível ao nível das nossas crenças e comportamentos é um requisito absolutamente indispensável para uma boa adaptação, integração e convivência familiar, social e profissional.

Profa Dra Edna Paciência Vietta

Psicóloga Ribeirão Preto

“Carpe diem”

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                                                                         “Carpe diem”

 A pós-modernidade parece marcada pela falta de limites, as pessoas sentem-se livres para agir de acordo com o que pensam, desejam e querem, há tendência a buscar prazer e satisfação no imediatismo em tudo e sempre, numa despreocupação com a duração das coisas. O que vale é o prazer imediato. Ou seja, tudo o que se faz é pensando no agora, sem discernimento, sem se importar ou refletir sobre o depois, as conseqüência, o futuro pouco importa.

Imediato é o mesmo que repentino, sem planejamento, instantâneo, impulsivo, é o “comer cru e quente”, o não ter paciência, não saber esperar mesmo sabendo que a espera pode trazer lhe maior proveito, mais benefícios, maior vantagens. O imediatista não admite frustração, quer tudo para ontem. Para ele a satisfação não tem limites. É a metáfora da criança que prefere ganhar um pedaço de chocolate a esperar por uma barra toda, o que revela sua imaturidade.  Esta supervalorização do presente produz a permanente busca por prazeres momentâneos, transitórios, fugazes.

Neste contexto “Carpe diem” significa equivocadamente vencer na vida o mais rápido possível e conquistar o direito de usar o tempo da forma que se deseja, sem ter que fazer nada por obrigação ou necessidade, somente por motivação, vontade e prazer. Na verdade, isso é Hedonismo exacerbado, pois nem o Hedonismo de Epicuro, também, muitas vezes, mal interpretado, se traduz a tendência a buscar o prazer imediato, individual, como única e possível forma de vida moral, evitando tudo o que possa ser desagradável de forma irresponsável. Para Epicuro o prazer da vida exigiria autocontrole e temperança.

Para o epicurismo, o prazer deve ser buscado de modo prudente. A felicidade pelo prazer só é real, se o homem que a busca se tornar sereno. A serenidade da alma não pode ser alcançada caso o homem se entregue inteiramente às suas paixões, pois são, prazeres efêmeros que logo acabam e, desse modo, deixam sofrimento em seu lugar. Por isso, Epicuro os chamou de “prazeres momentâneos”, em contraste com os “prazeres estáveis” que deveriam ser buscados. Esses prazeres estáveis nada mais são que ausência de perturbação e dor. Um exemplo: saciar a fome é um prazer estável, que Epicuro persegue e defende. Esbanjar-se num banquete de desperdício é um prazer momentâneo e, por isso mesmo, perigoso, já que dele pode advir males piores. Nada mais enganoso, portanto, do que a visão deturpada de que o epicurismo seria uma doutrina de devassos.

Como diz o filósofo Mário Sérgio Cortella, professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o hedonismo exacerbado da sociedade contemporânea, inebriada pelo consumo e pelo culto à juventude, pode nos levar a uma vida “leviana e descompromissada com a história”.

No entanto,  “Carpe diem” tem outro significado e outras estratégias como a de se aproveitar a vida, no sentido de desfrutar o momento presente. Desfrutar o momento presente e não só obter prazeres momentâneos. E nessa conotação que entendemos “Carpe diem”.

 “Carpe diem” é uma expressão latina que significa colher o dia, aproveitar o momento. O termo foi usado pelo Poeta Latino Horácio (65 a.C) que na linha do Epicurismo, exortou sua amiga Leuconoe a aproveitar o presente, antes que este se tornasse passado, já que a vida é breve, a beleza perecível e a morte certa. É também utilizado como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro.

“Carpe diem” tem sido interpretado de forma equivocada como significando apenas aproveitar o dia enquanto seu verdadeiro significado é mais amplo, ou seja, o de desfrutar a vida em todos os momentos e em todos os sentidos, de forma consciente e responsável.

Marcelo Bulhões, professor do Departamento de Ciências Humanas da Unesp, considera que “carpe diem” evoca questões atemporais e universais: “É a fruição da existência humana”. À revelia das pressões modernas, com o isolamento de uma sociedade consumista, workaholic e ensimesmada nas metrópoles cinzas, acredita que ainda há espaço para uma abertura às gratificações do efêmero: uma caminhada sem destino, o pastel na feira, as cores únicas do céu no pôr do sol… Para ele, tais gratificações são puro “carpe diem”.

                                           Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

                                                   Psicóloga Ribeirão Preto