Arquivo mensal: novembro 2012

Benefícios do autoconhecimento

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Conhecemos muito pouco a respeito do nosso próprio comportamento. Pelo fato de termos acesso privativo aos próprios pensamentos e sentimentos, acreditamos possuir conhecimentos profundos dos porquês dos nossos comportamentos. Contudo, esse tipo de conclusão não tem recebido suporte científico. Freud foi um dos primeiros pensadores a apontar o quanto da motivação humana permanece obscura à própria pessoa e sugeriu que tornar consciente essas motivações seria um passo importante para o estabelecimento de uma vida saudável.

O autoconhecimento é adquirido, aprimorado e influenciado de acordo com a observação e a percepção que o indivíduo faz da sua história de vida. O problema é que nem sempre as pessoas conseguem fazer essa auto-observação e isso pode gerar sofrimento por desconhecimento das razões de seu agir, pensar e sentir, e conseqüente sensação de vazio, raiva e frustração.

A psicoterapia é um processo de autoconhecimento que promove um maior desenvolvimento da percepção que o indivíduo tem dele mesmo, de seus comportamentos, pensamentos e sentimentos.

O desejo de conhecer mais sobre nós mesmos geralmente nos remete a experiências da infância, vividas com nossos familiares mais próximos. Muitas lembranças são prazerosas, algumas podem vir acompanhadas de dor e angústia. Portanto, este é um processo temido por muitos, e várias são as manobras que utilizamos para evitar contato com nosso mundo interior.

No entanto, reflexão e autoconhecimento são armas poderosas para resolver conflitos emocionais. A maior vantagem do autoconhecimento é que ele permite que o indivíduo encontre as reais causas das suas dificuldades possibilitando-lhe tomar atitudes para transformá-las. Por ser um processo temido, várias são as manobras conscientes e inconscientes, utilizadas pelo ser humano para evitar o contato com seu mundo interior. Os caminhos de alienação de si próprio são os mais diversos. Alguns evitam encarar sua realidade trabalhando o tempo todo, outros adoecem, outros comem ou gastam compulsivamente. Tudo isso para não ter tempo de olhar para si mesmo. Pessoas que não refletem sobre sua própria vida, distanciam-se cada vez mais de seus reais sentimentos, agem automática e impulsivamente, caminhando sem saber para onde.

Muitos preferem levar a vida sem muitos questionamentos, pois analisar as próprias atitudes e comportamentos demanda coragem, sobretudo, quando se constata a necessidade de mudança, é como mexer num vespeiro. Dessa forma, evitam entrar em contato com seus sentimentos mais profundos, até como forma de defesa, temendo machucar-se.

O autoconhecimento nada mais é do que o antigo axioma ensinado por Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Significa ter consciência de si mesmo, percepção dos próprios sentimentos, conhecer o sentido da própria vida, fazer uma avaliação realista das próprias capacidades de modo a desenvolver o auto-encontro gerador da auto-estima e autoconfiança.

Inteligência emocional é justamente esta capacidade de percepção dos próprios sentimentos a partir da qual, aprendemos a lidar com eles, dominando-os quando negativos, desenvolvendo-os quando positivos, de modo a se conquistar o equilíbrio emocional. Esse equilíbrio nos permite a motivação para uma vida mais harmonizada.

Pensadores, filósofos e pesquisadores têm debatido sobre a importância de o indivíduo conhecer a respeito do seu próprio comportamento, ou seja, como alcançar o autoconhecimento e o quanto este é relevante para a garantia de sua saúde mental.

A Psicologia é uma área do conhecimento que busca encontrar a resposta para essas questões por meio de método científico. Por este motivo, quando se deseja alcançar um grau mais profundo de autoconhecimento, recomenda-se a psicoterapia. Este processo é um recurso relevante para a produção das mudanças desejáveis, um caminho para compreensão dos motivos conscientes e inconscientes que nos leva a agir desta ou daquela maneira.

Profª. Drª. Edna Paciência Vietta

Psicóloga/Clínica

Neurose

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A palavra “neurótico”, da maneira como costuma ser utilizada hoje, tem sentido impróprio e pode ser ofensiva ou pejorativa. Para muitas pessoas a palavra “neurose” pode ser utilizada como sinônimo de “loucura”. Mas isso não é verdade. A neurose além de doença é uma maneira de a pessoa ser e de reagir diante da vida. Essa maneira de ser, significa que a pessoa reage através de reações vivenciais diferente, das que normalmente as pessoas reagem; seja pelo fato dessas reações serem desproporcionais, seja pelo fato de serem duradouras, ou ainda, pelo fato delas existirem mesmo sem causa aparente. As neuroses são fruto de tentativas ineficazes de se lidar com conflitos e traumas inconscientes. Nesse sentido, o que distinguiria a neurose da normalidade seriam a intensidade do comportamento e a incapacidade da pessoa resolver seus conflitos internos e externos de maneira satisfatória.

A neurose é uma doença causada por motivos inconscientes os quais geralmente garantem ganhos secundários, aparentemente vantajosos ao neurótico. Por exemplo, ser o centro das atenções familiares, obter o domínio do ambiente, evitar responsabilidades, camuflar inseguranças, medos, complexos, baixa auto-estima, etc.

As neuroses se manifestam por meio de sintomas inespecíficos e específicos. Os inespecíficos, ou acessórios, podem existir não só nas neuroses, mas também em outras doenças orgânicas ou psíquicas: depressão, hipocondria, irritabilidade, insônia, dores de cabeça, vertigens, paralisias, cegueira, convulsões etc. Apesar de acessórios, são muito freqüentes nas neuroses, e às vezes dominam o quadro clínico, de modo a mascarar ou encobrir os sintomas específicos.

Os sintomas específicos, ou essenciais, realmente típicos das neuroses, são angústia, fobias, obsessões, conversões (somatizações) e certas inibições, como a impotência sexual.

Em relação à ansiedade, a preocupação e o medo podem causar numerosos distúrbios em muitos indivíduos. Uma neurose deste tipo produz um estado de tensão crônico. Deste grupo fazem parte pessoas que são vítimas de ansiedade e medos de toda sorte. (Medo de elevadores, multidão, micróbios, sexo, loucura, morte e muitos outros fatores). Este sentimento de insegurança as torna sempre irrequietas. Nunca descansam. Permanecem em estado constante de exaustão nervosa.

Os sintomas neuróticos de ansiedade geralmente se desenvolvem em pessoas portadoras de caráter ansioso, ou seja, pessoas que encaram a vida com apreensão, socialmente inseguras, pessimistas e negativistas. Situações vivenciais, perdas significativas, problemas conjugais, crises financeiras e outros conflitos mais sérios, ou ainda, doenças físicas, podem precipitar nestas pessoas um quadro clínico de ansiedade, embora em alguns casos, os sintomas apareçam sem que nenhum fator significativo possa ser evidenciado.

Nossas vivências terão sempre caráter individual e particular em cada um de nós, de acordo com as particularidades de nossos traços afetivos. Os fatos podem ser os mesmos para várias pessoas, as vivências desses fatos, porém, serão sempre diferentes.

Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, propõe em um pequeno artigo datado de 1911 uma análise a respeito de como nos inserimos no mundo e de que maneira nos protegemos daquilo que pode se apresentar como ameaçador ao nosso psiquismo.

Como é possível compreender a relação que o ser humano estabelece com a realidade? Freud se fez estes questionamentos para tentar compreender a realidade e como nos relacionamos com ela, buscando esse conhecimento nos dois princípios que regem o funcionamento mental: o “princípio do prazer” e o “princípio da realidade”.

Freud chama de “princípio do prazer” aos processos primários do desenvolvimento humano, em que o sujeito busca a obtenção de prazer. Caso haja um desprazer, a atividade psíquica se recolhe. A este movimento de recolhimento Freud irá chamar de “recalque”, processo comum no neurótico.

Nem tudo que desejamos podemos concretizar, pois, a realidade (regras morais, cultura, tradição, costumes), regida pelo princípio de realidade, impede que o desejo seja satisfeito de maneira plena, daí a necessidade do recalque. Nesse sentido, o princípio do prazer é uma atividade psíquica, que abdica da imaginação, da fantasia, e concebe o real com todas suas vicissitudes e suas possíveis conseqüências desagradáveis. Daí Freud concluir ser a neurose o resultado de um conflito entre o Ego e o Id, ou seja, entre aquilo que o indivíduo é (ou foi) de fato, com aquilo que ele desejaria prazerosamente ser (ou ter sido).

Profa. Dra. Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica,

 

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O Sujeito pós-moderno: no olho do furacão

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                                                                                                                                  O Sujeito pós-moderno: no olho do furacão

 Não é assim um furacão? uma força da natureza que vai se formando num crescente de velocidade (velocidade superior a 105 km/h ) e cria em seu centro um vácuo aparentemente silencioso (um olho que pode variar de em tamanho, de 320 km a 200 milhas) de um lado a outro, geralmente situado no centro geométrico da tempestade), cercado por um turbilhão de agitação e barulho? Embora o olho seja, de longe, a porção mais calma da tempestade, sem vento no centro e céu normalmente limpo, é possivelmente a região mais perigosa sobre o oceano. Assim é também o homem pós-moderno que sem se aperceber vai sendo tragado naturalmente para o centro de um turbilhão, na agitação do mundo comandado por forças arrebatadoras. Das. influências e dominações importas por um mundo em transformação. Edna Paciência Vietta

As transformações da sociedade atual estão mudando nossas identidades pessoais, balançando a estrutura da idéia que fazíamos do sujeito integrado. Há uma perda de sentido, uma descentração do sujeito. Há quem diga que o homem pós- moderno é um ser atormentado, adoecido.

Hall assinala que instala-se na pós-modernidade uma crise de identidade, uma vez que o que antes estava centrado e estável, não está mais. Para este autor o sujeito pós-moderno: não possui uma identidade essencial ou permanente (HALL, 2005).

No mundo dito pós-moderno, as identidades podem ser adotadas e descartadas como se troca de roupa. Portanto, do nosso ponto de vista, um dos problemas atuais do homem pós-moderno é o da formação e/ou adaptação da identidade.

Segundo Stuart Hall a identidade é um conceito bastante discutido pelas teorias sociais, as quais, procuram demonstrar as velhas identidades – responsáveis pela estabilidade do mundo social – estão entrando em decadência e sendo substituídas por novas identidades, caracterizadas, entre outras coisas, pela fragmentação do indivíduo moderno. Para este autor a identidade é, portanto, definida historicamente e, não, biologicamente.

Assim, o sujeito pós-moderno só pode ser entendido se colocado na perspectiva histórica, ainda assim é possível que sejamos surpreendidos com um “sujeito” fragmentado, amedrontado, triste, ignorado enquanto ser, perdido na busca de sua identidade.

A chamada “crise de identidade” é vista hoje, como parte de um processo mais amplo de mudança, abalando os padrões de referência que garantiam, até então, aos sujeitos, certa estabilidade e segurança para sua sobrevivência no mundo.

No âmbito psicológico, o sujeito pós-moderno vivenciaria o quadro de transformação social e de incerteza sobre os paradigmas antes estáveis e vigentes, com movimentos de afastamento ou de progressivo fortalecimento da individualidade, face à incerteza do mundo em mudança.

Por razões obscuras, o ser humano não se reconhece e se nega buscar o autoconhecimento estando, por isso, vulnerável às diversas influências e dominações.

Por isso, a questão da identidade está sendo extensamente discutida na teoria social e também na psicologia.

O argumento é o seguinte: as velhas identidades, que por tanto tempo sustentaram o mundo social, estão em declino, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado.

A noção de identidade, no âmbito psicológico, é um processo contínuo de elaboração de “um conceito estável de si mesmo como indivíduo único e a adoção de uma ideologia ou sistema de valores que proveja um senso de direção”, um processo no qual “formamos nossa auto-imagem, a idéias sobre nós mesmos e o que os outros pensam de nós” (SCHULTZ, 2002).

A noção de identidade no âmbito psicológico implica, portanto, em construção de um senso de direção, de uma estrutura psicológica e emocional que possa prover certa noção de equilíbrio.

Acontece, que o sujeito pós-moderno pode se perder numa desordem ou em uma nova ordem, na qual os interesses individuais tendem a suplantar os interesses voltados ao bem-estar coletivo. Cada um estaria voltado para a busca de sensações prazerosas a despeito da organização coletiva.

A humanidade é bombardeada por informações, influenciada pelos meios de comunicação e pela utilização de novas tecnologias. A mídia cria demandas de consumo, que muitas vezes nada tem a ver com a necessidade do sujeito, oferecendo ao indivíduo várias possibilidades de identificações e exercendo papel de formadora do EU. Tudo isso coloca o sujeito na posição de mero espectador.

Nunca, na história da humanidade, o local e o global estiveram tão intimamente ligados à formação de sua identidade. Cabe ao sujeito pós-moderno construir uma identidade estável e que se sustente na trama histórica que se desenrola no tempo e no espaço.

Para isso, o homem pós-moderno além do autoconhecimento precisa aprender a conviver com as mudanças de forma realística. É preciso buscar equilíbrio. É difícil imaginarmos hoje o mundo desinformatizado, desconectado e desglobalizado, estamos no meio de transformações profundas, sem saber para onde caminhamos, à deriva – no olho do furacão.

Profa. Dra Edna Paciência Vietta

Psicóloga Clínica

O homem se produz e reproduz pelo trabalho

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O homem se produz e reproduz pelo trabalho

 

Segundo Rodrigues et all 2005, o trabalho é o principal regulador da vida, já que o sujeito organiza seus horários, relacionamentos familiares e sociais em função deste. Neste contexto, a aposentadoria, por representar a ruptura com o papel profissional formal, ao invés de ser vivenciada como um repouso merecido, pode se tornar uma ameaça para o equilíbrio psicológico. Quando nos apresentamos a alguém nosso trabalho é um importante elemento da nossa identidade.

O trabalho ocupa um importante espaço na vida humana. As pessoas vivem em função de sua atividade profissional, tanto que uma pergunta comum quando se é apresentado uma pessoa é “Onde você trabalha?” ou “O que você faz?”

Vivendo em uma cultura que desvaloriza o trabalho, pois este é pensado como esforço, renúncia, cansaço e exploração, a possibilidade de deixar de trabalhar parece ser o grande e único caminho da liberdade tão desejada após anos de labuta.

Com visão tão negativa e pessimista sobre o trabalho, o não-trabalho ganha notoriedade e sentidos positivos; não trabalhar significa ser livre, autônomo, dono da própria vontade e “senhor de seu próprio tempo”. Acredita-se que o não trabalho liberta o homem dos “castigos” impostos pela obrigatoriedade no cumprimento de horários, expedientes, pontos e de toda a rotina estafante associada ao trabalho; Assim, muitos trabalham sem nenhum sentimento de prazer no trabalho que exerce, contando dias e horas para a tão esperada aposentadoria. No entanto, é comum que depois de se aposentar algumas pessoas sintam-se perdidas, sem saber o que fazer.

A falta de atividades e o tempo ocioso podem trazer incômodo, vergonha e constrangimento para quem teve uma vida produtiva podendo levar à depressão, isolamento, solidão e a outros sintomas associados.

Cavalcanti (1995) afirmou que o trabalho muitas vezes representa “realização pessoal, elevando a auto-estima do sujeito devido reconhecimento social e à auto-imagem positiva originada a partir de bom desempenho profissional”.

O afastamento do trabalho provocado pela aposentadoria talvez seja uma das perdas mais relevantes na vida das pessoas. Além de perdas materiais que geralmente ocorrem em função da diminuição da renda, há perdas sociais e psicológicas importantes que podem afetar a saúde física e mental do aposentado. O trabalho é bem mais que simples ganha-pão; o trabalho é elemento fundamental na constituição da identidade humana (Codo, Sampaio & Hitomi, 1993; Codo & Sampaio, 1995). Com a aposentadoria, o indivíduo perde a rotina de trabalho; a identidade de trabalhador e afasta-se do convívio dos colegas. Muitos se preparam para a aposentadoria e logo encontram um substituto para o trabalho. Porém, para grande parte dos aposentados, o que ocorre é que nos primeiros meses há uma sensação gostosa de férias. Depois, vem o sentimento de vazio; de inutilidade, solidão e algumas vezes a depressão (Pacheco, 2002). Você acorda de manhã e já não tem mais para onde ir, acabou seu compromisso, não tem mais obrigações, já não sabe o que fazer. Você já não é mais o professor, o mecânico ou enfermeira. Aos poucos vai perdendo o reconhecimento social pelo profissional que foi um dia e perde também o reconhecimento de si próprio. É com essa sensação que o aposentado precisa lidar agora.

Os aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais são dimensões inter-relacionadas, devendo haver integração, equilíbrio e harmonia entre elas.

A aposentadoria é um período de reestruturação da vida e de valores. É neste período de mudanças extremas que familiares e amigos são de grande importância. Neste momento retoma-se a vida pessoal deixada de lado ou para trás; bom relacionamento entre casais, filhos, amigos fora do ambiente de trabalho. Normalmente os trabalhadores são tão absorvidos pelo trabalho que acabam deixando suas famílias e amigos. O momento de aposentadoria pode ser o momento de reflexão e retomada desses vínculos. É preciso se preparar para a aposentadoria e caso já tenha se aposentado ainda há o recurso de buscar ajuda para torna essa opção uma condição saudável.

A Psicoterapia é um lugar de encontro e de construção: encontro consigo mesmo, no desvelamento de novas possibilidades de realização de seu viver e construção de uma maneira nova de encarar as diversas situações experienciadas em seu cotidiano.

 

        Profa Dra Edna Paciência Vietta

                   Psicóloga Clínica